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Sinopse

Uma grave crise no relacionamento de um casal de idosos afeta a rotina dos filhos, dois rapazes que se preparavam para finalmente saírem de casa.

Crítica

Uma tendência cada vez mais intensa, principalmente entre os realizadores adeptos a um estilo de cinema mais alternativo e independente, interessados em experimentar novos formatos e ousar em seus discursos, é a eliminação dos gêneros. Afinal, a vida de uma pessoa não é só comédia, drama ou terror. Há um pouco de tudo – às vezes mais disso ou daquilo, mas ainda assim alternando momentos bons com ruins, felizes com tristes, surpresas com calmarias. É por este caminho, portanto, que o realizador mineiro André Novais desenvolve a trama de sua estreia em longa-metragem com Ela Volta na Quinta, filme que não é nem uma coisa ou outra, ainda que prometa ser muito mais do que, de fato, é.

Apesar de estar se aventurando pela primeira vez em uma narrativa mais extensa, André Novais não é um novato. Seu trabalho anterior, o curta Pouco Mais de um Mês (2013), passou por festivais como Tiradentes e Gramado e recebeu uma menção especial na Quinzena dos Realizadores, em Cannes. Muito alarde para pouco conteúdo, o que acabou levando o realizador a acreditar demais no seu potencial, perdendo um pouco a dimensão das coisas. Assim, ao invés de seguir explorando a linguagem cinematográfica, ele tomou a decisão de, a partir do mesmo universo já visitado, apenas aprofundá-lo e, desse modo, investir na realização de um longa. O mesmo fez Daniel Ribeiro com o curta Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010) e sua versão estendida Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014). As semelhanças entre os dois cineastas, no entanto, terminam nessa única decisão. Os resultados que ambos alcançam, por outro lado, não poderiam ser mais díspares.

Em Pouco Mais de um Mês, éramos convidados a acompanhar uma conversa entre o próprio diretor André Novais e sua namorada, Elida Silpe. Os dois estavam na cama, mas não era um ambiente sexual ou obsceno – pelo contrário, o clima era de conforto, aconchego, tranquilidade. Os dois discutiam sobre suas vidas, possíveis futuros juntos e o que fazer quando saíssem dali. Em cerca de vinte minutos de duração, o diálogo fluía bem e um lance em especial – o jogo com a câmera escura através das sombras projetadas pelas frestas das cortinas da janela – dotava o projeto de um carisma diferenciado. Pois bem, o que temos em Ela Volta na Quinta é exatamente isso – inclusive repete-se esta mesma cena da cama entre André e Elida – mas, agora, em uma dimensão mais ambiciosa. O foco está em toda a família Novais Oliveira, oferecendo, inclusive, a uma geração anterior o protagonismo: o realizador e seu irmão, Renato, assumem a condição de coadjuvantes diante de um drama conduzido pelos pais, Norberto e Maria José.

Casados há quase quarenta anos, os dois estão em crise. Ele possui uma amante, e toda a vizinhança – inclusive a esposa – sabe disso. Cansada dessa situação, ela decide passar um tempo fora, para refletir e pensar na vida. Ao mesmo tempo, há histórias paralelas, como a de Renato e sua namorada, indecisos entre um casamento iminente e a urgência de terem um filho, e a do próprio André e Elida, agora já casados e enfrentando problemas de ordem mais prática. A questão, no entanto, é como se posicionar diante do que é exposto na tela: realidade ou ficção? Todos os personagens possuem os mesmos nomes das pessoas que os interpretam, além de desempenharem idênticas funções sociais – são pais, irmãos, maridos, esposas. Mas as ligações que se estabelecem em cena, serão ficcionais ou verídicas? E, em última instância, qual o propósito disso?

Ela Volta na Quinta provoca pouco, e entrega menos ainda. Apesar de partir de uma realidade muito próxima a do realizador, sua postura é fria, nada intrusiva, exageradamente distanciada. A câmera quase não se mexe, os diálogos revelam muito pouco, e as passagens desenvolvidas são mais alegóricas do que significativas. A morosidade toma conta de todo o projeto do início ao fim, e se revela uma tarefa árdua identificar o que de valor tão proposta possa conter. Essa mesma apatia é transferida ao espectador, que assiste a tudo com desinteresse e pouca curiosidade, reconhecendo a pouca relevância que esse exercício narrativo tem, seja enquanto cinema, entretenimento ou, ainda mais inviável, como arte pertinente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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