Crítica

Existem coisas no cinema que são inexplicáveis. A trilogia Efeito Borboleta é uma delas. Desprezado pela crítica e ignorado pelo grande público, o primeiro filme, de 2004, só adquiriu status de ‘cult’ ao ser lançado em vídeo. Foi o suficiente para duas continuações, ambas infinitamente piores do que o original. E se a segunda (de 2006) já era bizarra, esta terceira é ainda mais equivocada, ignorando o argumento original e concentrando-se apenas no quesito ‘fantástico’ da história – ou seja, um protagonista capaz de viajar no tempo. Com equipe técnica e atores que nada possuem em comum com os dois longas anteriores, esta terceira parte é um desperdício total de tempo e dinheiro, que não merece mais do que o profundo esquecimento.

O resultado é tão ruim que nos Estados Unidos, onde foi produzido, Efeito Borboleta: Revelação nem chegou aos cinemas, tendo sido lançado no início de 2009 diretamente em DVD. A questão, portanto, é tentar descobrir o que levou a distribuidora nacional a apostar numa carreira na tela grande aqui no Brasil. Ocupando um espaço valioso com cópias e estratégias de marketing, deve ser solenemente ignorado e rapidamente retirado de cartaz, uma vez que não há o que se salve deste imenso engano. A impressão geral é de que se trata de uma produção amadora, daquelas feitas às pressas em faculdades de cinema por alunos mais preocupados em serem aprovados do que com a construção de uma carreira. Porque o que se vê em cena é pra desmotivar qualquer curioso, que dirá dos interessados iludidos pela referência do título.

Seth Grossman, que nunca realizou algo digno de nota em sua curta carreira cinematográfica, ficou responsável pela direção deste roteiro elaborado pela novata Holly Brix. Os dois entregaram os papéis dos protagonistas aos desconhecidos Chris Carmack (que possui diversos créditos na televisão, em seriados como The O.C., Smallville, Desperate Housewives e C.S.I.) e Rachel Miner (que também já marcou presença em séries como Californication, Sex and the City, Medium e Supernatural). Os dois se esforçam como um casal de irmãos marcado por uma tragédia: um incêndio na casa da família que acabou matando os pais deles. O rapaz é que possui o dom de viagens temporais, e ele ganha a vida ajudando a polícia a solucionar mistérios. Porém certo dia é levado a tentar voltar alguns anos e tentar impedir o assassinato da namorada. Assim, ele termina por infringir a única regra que deveria respeitar: nunca interferir no seu próprio destino. E este desrespeito será suficiente para causar problemas incontornáveis nos seus possíveis futuros.

Com um orçamento de menos de US$ 5.000,00 (baixo até para os padrões brasileiros) e massacrado por qualquer um que tenha se aventurado a assisti-lo, Efeito Borboleta: Revelação não deverá contentar nem mesmo os árduos defensores do primeiro filme, que contava com Ashton Kutcher e Amy Smart à frente do elenco. Confuso, enrolado, sem foco e com uma revelação final mais risível do que surpreendente, não serve nem como passatempo em dia chuvoso. Quem dera os responsáveis por essa bobagem pudessem eles mesmos voltar no tempo e evitar este desastre! Isso sim é que seria um acerto!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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