Crítica

Há alguns anos, o Festival do Rio mostrou o documentário Guerras Sujas (2013), sobre operações militares sigilosas desempenhadas pelo Exército dos Estados Unidos. O longa Drone fala de tema semelhante, mas a partir do uso de naves não-tripuladas no Paquistão.

O ponto de partida é o depoimento de um ex-piloto de drones, que conta os terrores de seu ofício. Mesmo a milhares de quilômetros da ação, ele sentiu toda a pressão psicológica das vidas que foram terminadas por conta de seu trabalho. Esse é apenas um dos elementos que dá peso ao documentário.

Por ter um recorte bem definido, o filme consegue se aprofundar no assunto. Ao depoimento do combatente, somam-se as falas de outras pessoas que de alguma forma estão envolvidas com isso. O fabricante dos drones, parentes de vítimas e especialistas dão suas contribuições para formar um panorama mais completo sobre a questão.

Assim, percebemos que há uma indústria bilionária por trás dessa discussão. Desde o agenciamento de jovens até as bombas explodirem no Paquistão, Drone acompanha toda a cadeia de eventos.

Os jovens de maior potencial são identificados por olheiros do Exército em eventos de videogame. Outra forma de convencer o recrutamento se dá com as Forças Armadas patrocinando ou produzindo jogos eletrônicos de guerra. Por outro lado, o fabricante lucra com a venda das máquinas, mas tem consciência da extensão do seu trabalho. A soma de todas as facetas atinge o espectador.

Entretanto, o que mais impressiona em tudo isso é que o uso dos drones faz parte de uma brecha jurídica. Todos os trâmites são explicados no documentário, mas o que vale ressaltar é que, no fim da contas, qualquer ação realizada por esse equipamento não pode ser considerada um crime de guerra.

O conselho é escolher muito bem a programação do dia em que o leitor for assistir a Drone. Atividades mais alegres são aconselháveis para amenizar a experiência que questiona a fé na humanidade.

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é formado em Audiovisual pela ECA/USP. Escreve para os sites BRCine e SaraivaConteúdo, além de colaborar para a revista Preview. Participa do programa Quadro a Quadro na TV Geração Z e de videoposts do canal Tateia. Tem experiência em sites (UOL Cinema, Cineclick e GQ), revistas (SET, Movie e Rolling Stone) e televisão (programas Revista da Cidade e Manhã Gazeta).
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