Crítica

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Em 2011, a Rede Globo estreou um novo formato de especial de final de ano convidando Jorge Furtado para escrever e dirigir um telefilme exclusivo para a emissora. O resultado foi Homens de Bem, um suspense com tons cômicos estrelado por Rodrigo Santoro e Débora Falabella. Muito mais uma curiosidade interessante do que um daqueles trabalhos inesquecíveis do cineasta gaúcho, Homens de Bem acabou sendo indicado ao Emmy Internacional, algo que não passou despercebido pela cúpula global. Em 2012, Furtado repetiu a participação, desta vez em co-direção com Ana Luiza Azevedo, com resultados muito superiores. Em Doce de Mãe, o diretor deu a Fernanda Montenegro um de seus personagens mais deliciosos, uma senhora idosa que deseja viver intensamente o que lhe resta da vida. Novamente lembrado pelo Emmy, desta vez a vitória veio através da atuação da veterana atriz, que preenche a tela com toda sua sabedoria e inegável timing cômico.

Na trama, Dona Picucha (Montenegro) resolve convidar sua família para um jantar especial: as famosas panquecas flambadas, que tanto adoram seus quatro filhos – Silvio (Marco Ricca), Elaine (Louise Cardoso), Fernando (Matheus Nachtergaele) e Suzana (Mariana Lima). O motivo da comemoração é o casamento de Zaida (Mirna Spritzer), a cuidadora e amiga daquela velha senhora. A festa acaba sendo motivo de preocupação para a família, visto que Picucha não teria com quem ficar. Ela se encanta com essa possibilidade, mas seus filhos não gostam nem um pouco. No vai e vem dessa história, Picucha vai sumir algumas vezes, virará a noite em um pagode e acolherá um mendigo em seu apartamento, o sereno Jesus (Daniel de Oliveira).

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Jorge Furtado é muito inteligente em dedicar Doce de Mãe as desventuras de Dona Picucha, interpretada com maestria por Fernanda Montenegro. A atriz é, talvez, uma das poucas unanimidades no Brasil. Não há quem não considere Fernandona nossa estrela mais brilhante. Por dar a ela um papel perfeito para sua idade, caprichando nas boas piadas e na presença de cena, Furtado faz um gol de placa. Ajuda o fato de o elenco todo ser um desbunde. Não é qualquer cineasta que consegue juntar em um mesmo time nomes do quilate de Marco Ricca, Matheus Nachtergaele, Louise Cardoso e Daniel de Oliveira. Todos com personagens interessantes, verdadeiros coadjuvantes de luxo.

A temática central de Doce de Mãe é a velhice, o final da vida. Mas não como algo triste e deprimente. Dona Picucha está muito ciente de que seus dias estão contados, mas nem por isso ela os encara com amargura ou medo. Ela os enfrenta de braços abertos, de sorriso nos lábios, tentando aproveitar o que pode dessa sua existência. Como sua amiga Zaida tão bem coloca: “é possível que ela enterre a todos nós”. E não duvidamos, devido a vivacidade apresentada pela protagonista. Uma verdadeira lição de vida.

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Com apenas 70 minutos de duração, Doce de Mãe foi tão bem sucedido em sua estreia na televisão que acabou gerando uma série, com 14 episódios, lançada no ano seguinte. Fernanda Montenegro venceu o Emmy Internacional como Melhor Atriz pelo telefilme e, depois, foi indicada novamente pela sua interpretação no seriado. Louros merecidos por uma performance inesquecível, que se soma a tantas outras já apresentadas pela veterana atriz.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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