Dior e Eu
Crítica
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Sinopse
Descubra o mundo da grife Christian Dior, através da chegada do novo diretor criativo Raf Simons, e do lançamento da sua primeira coleção de alta-costura.
Crítica
O mundo da moda e o universo cinematográfico possuem muito em comum. Basta prestar um pouco de atenção às temporadas de premiações, em que festas como as do Globo de Ouro e a do Oscar despertam tanta curiosidade sobre quem foi premiado quanto a respeito de quem vestiu o que. Os tapetes vermelhos são verdadeiras febres, e há uma indústria cultural voltada especificamente a eles, muitas vezes nem se preocupando com o show em si, mas apenas com os figurinos das celebridades presentes. E se nos últimos anos essa relação se fez mais evidente ao grande público com as cinebiografias de ícones como Coco Chanel e Yves Saint-Laurent, , há um bom tempo o cinema documental tem demonstrado particular interesse neste contexto, na maior parte das vezes entregando obras acima da média. Exatamente como acontece com o instigante Dior e Eu.
Nascido em 1905, na França, Christian Dior abriu sua Maison em 1947, e ficou à frente da empresa por apenas 10 anos, vindo a falecer em 23 de outubro de 1957. Esse período foi mais do que suficiente, entretanto, para torná-la referência no circuito fashion, fazendo na marca Dior um ícone de glamour e estilo. Antes de morrer, o estilista escreveu uma autobiografia intitulada Dior & Dior, em que discorria justamente sobre a dualidade entre os seus dois “eus”, o público e o íntimo. Aproveitando esse gancho, o documentarista Frédéric Tcheng aproveitou um momento singular na história da casa para desenvolver Dior e Eu: quando o belga Raf Simons assumiu o posto criativo da empresa, tendo apenas oito semanas para conceber e realizar seu primeiro desfile.
Pra começar, Tcheng não é nenhum novato no tema. Sua afinidade com o assunto o levou a produzir Valentino: O Último Imperador (2008), sobre a vida do estilista italiano Valentino Garavani, e codirigir Diana Vreeland: The Eye has to Travel (2011), sobre a poderosa editora de moda da revista Harpers Bazaar. Em Dior e Eu, no entanto, ele assume uma posição muito mais pessoal, e de maneira impressionante. Acompanhamos a chegada de Simons e seu braço direito, Pieter Mulier. Os dois, que tinham fama de serem minimalistas por seus trabalhos anteriores, chegam com a missão de resgatar uma aura de luxo e visual próprio. Um objetivo que, evidentemente, não será alcançado de forma tranquila. Afinal, como é dito em certo ponto, “não é a casa que deve mudar conforme o estilista, e sim este que deve se adaptar à Maison”.
Há poucos depoimentos e entrevistas, e estes são pontuais e bastante apropriados. Mesmo assim, o maior interesse para o público – seja ele aficionado pelo tema ou não – está nesse olhar íntimo que o diretor oferece. Como conseguiu tamanho acesso, no entanto, parece ser a maior questão. Simons, em uma reunião, chega a afirmar o quão desconfortável se sente em sessões fotográficas (revela até estar em dúvida se deve ou não fazer uma única foto exclusiva para uma matéria de dez páginas para a revista Paris Match, a mais importante do país) e como câmeras em geral lhe oprimem – tudo isso, é claro, diante de uma câmera! O primeiro contato dele com os demais colaboradores, a relação com as costureiras, a confiança depositada pelos diretores e até as discussões sobre o formato da apresentação da nova coleção. Uma proximidade incrível que revela em detalhes um processo criativo bastante singular.
O quão pertinente é, de fato, a Moda enquanto elemento transformador? Ainda mais em um mundo como o atual, em que intolerâncias e radicalismos parecem cada vez mais tomar conta dos debates? Mergulhar com tamanha intensidade em uma realidade tão paralela parece quase um exercício expiatório, mas Dior e Eu consegue ir além da frivolidade que geralmente acompanha o assunto para se revelar um interessante e curioso estudo de caso. Da presença de celebridades como as oscarizadas Jennifer Lawrence e Marion Cottilard ao aval de concorrentes e analistas de peso como Donatella Versace e Anna Wintour, Tcheng consegue transcender a sombra que Christian Dior exerce até hoje sobre a marca que leva seu nome, mostrando como um artista consegue imprimir suas próprias características sem desprezar conquistas históricas agregadas. O fascínio faz parte do resultado, mas felizmente ele vai além das peças exibidas na passarela.
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