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Sinopse

Criada com a ideia da impossibilidade da monogamia, uma mulher totalmente focada na carreira vai confrontar suas convicções e medos ao encontrar um cara de quem realmente gosta.

Crítica

Para quem curte as comédias de Judd Apatow no Brasil, a vida não tem sido fácil. O último filme do cineasta que estreou nos cinemas do país foi em 2007, o sucesso Ligeiramente Grávidos. Desde então foram três longas que foram direto para o home vídeo: Tá Rindo do quê? (2009), Bem-vindo aos 40 (2012) e, o mais recente, Descompensada. O cineasta já foi visto com o novo Midas da comédia, mas não tem conquistado muita confiança dos distribuidores destas bandas. No caso deste mais novo trabalho, nota-se falta de visão por não apostarem em uma estreia no cinema. Não só por causa das indicações ao Globo de Ouro deste ano, mas por apresentar a comediante mais promissora a surgir nos Estados Unidos nos últimos tempos: Amy Schumer. De humor ácido, sem medo algum de tirar sarro com sua própria figura, a comediante tem mostrado talento ímpar e já arrancou sua primeira indicação ao Globo de Ouro, na categoria Melhor Atriz de Comédia ou Musical.

Com roteiro da própria atriz, Descompensada conta a história de Amy, jornalista que trabalha em uma revista famosa, mas de conteúdo duvidoso, que simplesmente não consegue se envolver com ninguém. Seus relacionamentos sempre são rápidos e sem muito sentimento, algo que ela e sua irmã mais nova Kim (Brie Larson) aprenderam com o pai desde criança: não se envolvam. A caçula não seguiu o exemplo e está casada, com filho adotivo e tudo. Mas não Amy. Até que, depois de ser escalada para escrever uma matéria sobre esporte, assunto que ela não domina, a jornalista conhece o doutor Aaron (Bill Hader), um dos mais famosos médicos das estrelas do basquete. Diferente de Amy, Aaron procura por um relacionamento mais sério e se apaixona pela moça. Agora, ela se vê em um namoro inesperado com um sujeito que parece ser bom demais para ser verdade. Ou seria sua vontade de escapar de uma relação que a deixa nervosa?

Embora esteja filmando pela primeira vez um roteiro que não é seu, Judd Apatow imprime em Descompensada seu estilo. Ou seja, atuações bastante naturalistas e situações cômicas sem pressa alguma para se concretizarem. Aliado ao texto genuinamente engraçado de Amy Schumer, Apatow se encontra novamente, com os dois colaborando na formulação de personagens cativantes e muito humanos. O encontro destes dois profissionais se mostra feito sob medida, dada a qualidade do produto final visto em tela.

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Não só Amy Schumer e Bill Hader formam um casal adorável e totalmente crível, como os coadjuvantes têm espaço real para crescer e até roubar algumas cenas. Aqui o destaque fica para a atuação pé no chão de Brie Larson, como a irmã mais centrada, por vezes mais calorosa, outras vezes fria (principalmente quando se trata do velho pai) e para a surpreendente boa atuação do astro do basquete LeBron James, que vive ele mesmo no filme. As piadas que escreveram para seu personagem são muito boas e o jogador não se mostra nada desconfortável em encarar o papel. Tilda Swinton faz praticamente uma ponta como uma editora desalmada e também não decepciona.

Mas, lógico, que o filme é de Schumer e de Hader. A primeira mostra que consegue fazer mais do que os esquetes divertidos de seu programa de TV Inside Amy Schumer. Com um personagem que tem sentimentos mais profundos e dúvidas a respeito de sua vida amorosa e do seu relacionamento com o pai, a atriz prova que tem farinha no saco para voos mais altos. Bill Hader, da mesma forma, sai da sombra do coadjuvante roubador de cenas e assume o protagonismo de uma comédia romântica diferente. Mais contido que o habitual, o ator faz um belo par com Schumer e mostra bom timing cômico ao lado de LeBron James.

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Como todo filme de Judd Apatow, Descompensada se mostra longo demais, com algumas arestas que poderiam ser polidas e histórias que facilmente ficariam no chão da sala de montagem com um realizador menos prolixo. Um exemplo disso é a cena de intervenção, que pouco agrega ao filme, nem com as pontas de figuras famosas (que aqui serão mantidas em sigilo para não estragar surpresas). Outro ponto comum nas comédias de Apatow é o ritmo frouxo, que se por um lado agrega um despojamento cativante, por outro deixa o filme irregular. De qualquer forma, a comédia merece destaque pela história divertida e pela criação de outra personagem forte, em um ano em que vimos ótimas performances femininas.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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