Crítica

Trabalho de estreia do diretor Marcos Jorge, Corpos Celestes só conseguiu ser exibido num circuito maior após o lançamento – e consequente sucesso – do longa posterior do diretor, o evidentemente superior Estômago (2007). Mesmo assim a demora foi bastante: exibido na mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado de 2009 – onde recebeu o prêmio de Melhor Fotografia (também seu maior mérito, numa escolha bastante óbvia dentre os demais concorrentes) – só dois anos depois ganhou, finalmente, o circuito comercial. E se alguém estava com alguma expectativa, a frustração foi certa, afinal trata-se de um filme tão belo quanto vazio.

Corpos Celestes narra a história de um astrônomo marcado por um fato em seu passado ao qual deve sua prolífica carreira, que terá de lidar com um dos maiores mistérios entre a insignificância do homem e a imensidão do cosmos: seus sentimentos por Diana (Carolina Holanda), uma moça bem à vontade com o seu lugar no universo. O problema maior é que tudo é frio, distante, incapaz de gerar um envolvimento maior com o espectador. A atuação nada inspirada do protagonista também colabora para o sentimento geral de distanciamento.

Corpos Celestes é um filme bonito, porém estranho. Com Estômago (que recebeu 5 indicações ao Prêmio Guarani 2009, inclusive à Melhor Filme, e ganhou em 3 categorias: Ator, para João Miguel, Roteiro Adaptado e Revelação do Ano, para Fabiúla Nascimento) Marcos Jorge despontou como uma das revelações do ano. Aqui ele divide os créditos da direção com Fernando Severo, e os dois contam a história deste homem (Dalton Vigh, quando adulto, e Rodrigo Cornelsen, na infância) que decide ser astrônomo ainda na infância, após ficar amigo de um americano cheio de hábitos curiosos. É um filme interessante, de fotografia envolvente e conduzido com carinho, mas dono de um roteiro que não entrega facilmente suas intenções, trabalhando mais com a subjetividade dos personagens do que com um enredo que necessite evoluir linearmente.

Corpos Celestes foi filmado em cinco cidades: Curitiba, São Paulo, Castro, Piraquara e Araucária, em mais de 20 diferentes locações. Durante sua trajetória foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Goa, na Índia, e no 5° Festival de Cinema de Goiânia, onde recebeu os prêmios de Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Ator Revelação. No 4° Festival da Lapa, em 2010, recebeu o prêmio de Melhor Figurino. Foi um dos 15 filmes brasileiros incluídos na seleção “Brasil: el cine del siglo XXI” realizada por José Carlos Avellar e Gianni Ottone na 55ª Semana Internacional de Cine de Valladolid, na Espanha, em outubro de 2010. Em novembro o filme recebeu também os prêmios de Melhor Direção e Melhor Roteiro no 5° Festival de Cinema dos Sertões. É um circuito que até impressiona, mas que por fim revela mais a carência de bons títulos no cinema nacional do que um destaque por mérito próprio. É um filme que provoca admiração, mas não levanta paixões.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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