Crítica


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Sinopse

Acompanha a vida de Kauan, um menino albino de 11 anos. Nascido de pais negros, Kauan descreve de forma lúdica e espontânea a rotina do dia a dia com sua família atípica, pois ele tem cinco irmãos: dois albinos e três negros. Mesmo com todas as limitações de sua condição, ele quebra barreiras e se interessa na abundante cultura negra local de sua cidade natal.

Crítica

O que deseja Lívia Perini com o curta Cor de Pele? Difícil saber. Afinal, Kauan, o garoto por ela escolhido como objeto de estudo e observação, é tão carismático que, sem hesitar, toma o filme para si, eliminando quaisquer outros caminhos a serem trilhados. O que o faz especial, no entanto, é muito mais do que a cor – ou ausência desta – de sua pele. O menino é albino, porém isso parece insuficiente para justificar tamanho destaque. Afinal, há milhares de pessoas com semelhantes condições. Ele próprio, como logo fica claro, possui duas irmãs na mesma situação. Mas Kauan é mais que isso. O que para muitos seria adversidade, ao menino soa como um estímulo para ir adiante. O exemplo é forte. Mas seria ele, mesmo, tão diferente dos demais?

Kauan é filho de pais negros e possui cinco irmãos – como dito, duas meninas são como ele. Porém, há outras três crianças com as quais não possuem a menor semelhança. Entretanto, há mais do que aparência física entre eles. Há, de fato, uma família ali. A irmandade dos seis pequenos é latente em cena, por mais que as atenções sejam, estranhamente, voltadas quase apenas a ele. Mas se, como o título diz, o foco é a "cor da pele", por que não falar do grupo familiar, das contradições entre os seis irmãos – três albinos, três não – e das experiências entre eles? A (falta de) pigmentação está presente, é claro, mas ela é vista quase como uma desculpa. O filme ganharia caso se chamasse apenas "Kauan". Ele é o interesse.

Pouco é exposto a respeito sobre o entorno. O pai é ausente – ou se recusou a aparecer – enquanto a mãe oferece relatos pontuais, como a surpresa quando lhe entregaram o filho recém-nascido e os cuidados que precisa ter com ele, vide o uso de protetores solares ou a regulação de sua exposição à luz. O filme, no entanto, se revela por completo quando o menino consegue falar por conta própria. Comenta o inevitável bullying que sofre dos colegas na escola, diz como lida com a visão limitada, as dificuldades financeiras e de que modo pequenos prazeres mudaram sua vida, como o tablete ganhado – que lhe permite brincar dentro de casa, sem sair para a rua e sofrer com os raios do sol. É importante lembrar que Kauan e sua família moram em Olinda, Pernambuco, cidade que registra altas temperaturas durante quase o ano inteiro. O calor é constante. Mas a criança supera qualquer percalço com bom ânimo e criatividade. Sem nunca deixar de ser quem é.

Talvez essa seja a maior lição que Perini oferece com Cor de Pele: por mais intenso que possa ser o verão, o inverno sempre há de chegar. A luz pode imperar, mas ela, inevitavelmente, dará espaço para a sombra. E com essa virão também o refresco, o alívio. Kauan pode ter sua cota de sofrimento, mas um dia deixará de ser infante e se tornará homem. Cada um é dono da sua própria caminhada, e os passos dados irão formar a pessoa de amanhã. Com mais olhar às irmãs, principalmente – afinal, possuem muito a compartilhar sobre o assunto em questão – talvez o filme fosse outro. Mais equilibrado, correto, reto. Do jeito que está, no entanto, peca por essa irregularidade, ao mesmo tempo em que ganha, e muito, em espontaneidade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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