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Sinopse

Blau Nunes é um valoroso tropeiro que conduz o espectador por cinco histórias que adaptam os famosos contos Os Cabelos da China, Jogo do Osso, Contrabandista e No Manantial.

Crítica

Este ano de 2012 marca o centenário de Contos Gauchescos. A obra do escritor gaúcho, nascido em Pelotas, João Simões Lopes Neto traça a mitologia da parte sul do Rio Grande do Sul. Os relatos do protagonista Blau Nunes integram a região pampiana à cultura dos vizinhos uruguaios e argentinos. Narrados em linguagem ordinária – algo incomum e considerado menor para a época, especialmente antes das experimentações de Guimarães Rosa – os causos assumem importância dupla, tanto pela qualidade literária quanto pela utilidade antropológica. Assim, a adaptação de Contos para a tela teve a sua espera na expectativa de que o audiovisual levasse Simões ao maior público possível. E imagino que este desejo altruísta foi, a um tempo, o motor a impulsionar o diretor e o culpado pelas escolhas equivocadas na realização.

Motivou, sim, pois o diretor gaúcho Henrique de Freitas Lima (Lua de Outubro, 2001, e Concerto Campestre, 2005) conseguiu um didatismo que possibilita levar a conhecer Simões Lopes Neto a todos os cantos e públicos. Entretanto, o seu Contos Gauchescos falha na indecisão quanto ao formato, e consequentemente no destino do projeto. Realizada por Pedro Zimmermann (Arte, Ordem e Caos, 2008), a primeira parte apresenta uma cronologia acelerada da vida e obra do autor. A segunda parte, por sua vez, trata de ficcionalizar quatro contos: Os cabelos da china, Jogo do osso, Contrabandista e No manantial.

A transição entre os contos é equivocada. É impossível não perceber o interesse do diretor de produzir um material que se encaixe como coringa tanto para a televisão como para o cinema ao trazer à tela os créditos dos atores a cada novo “episódio”. Não há problema em levar o conteúdo de um filme para a televisão, como foi o caso de Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002) para com Cidade dos Homens (2002 – 2005). O problema reside em gerar um conteúdo intermediário entre material institucional, como é o caso da parte dirigida por Zimmermann, material televisivo, como é a parte de Freitas Lima, e lançá-los em colagem relapsa tal qual obra cinematográfica. A falta de adequação é evidente, pois aquilo que a tudo procura encaixar-se, a nada pertence.

Além do mais, há desníveis nos estágios da realização. A captação das cenas, o figurino e a direção de arte têm momentos de qualidade. As interpretações, no entanto, destoam em inúmeras passagens, apesar de o elenco contar com atores experientes como Roberto Birindelli (visto também no recente Colegas, 2012) e Leonardo Machado (Valsa para Bruno Stein, 2007, e Em Teu Nome, 2009). A falta de densidade dramática decorre claramente da efemeridade dos personagens, que não constroem qualquer relação com o público. O que pode ser um problema menor para capítulos de uma série televisiva semanal, se faz inaceitável em uma obra cinematográfica. Antes de tudo, Contos Gauchescos precisa descobrir o seu chão. Assim como o fez com primazia o autor dos seus contos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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