Crítica


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Sinopse

Um homem que tem que cuidar de seu bebê prematuro quando sua esposa falece durante o parto. Para piorar, o furacão Katrina passa por Louisiana e deixa um rastro de desespero e destruição.

Crítica

Pouco antes de falecer inesperadamente no dia 30 de novembro deste ano, Paul Walker estava envolvido com a divulgação deste filme – que, no entanto, não é o seu último a chegar às telas. Além de Contagem Regressiva – título nacional infeliz e sensacionalista para o muito mais apropriado Hours, ou Horas, no original – o astro deixou mais dois trabalhos em desenvolvimento, um em pós-produção e outro em andamento (Velozes e Furiosos 7, para ser mais exato, que teve sua data de estreia adiada enquanto o diretor James Wan decide o que fazer para terminar as filmagens sem um dos protagonistas). Mas se Walker sempre foi identificado pelo grande público como um herói de tramas de ação e aventura, o que vemos aqui talvez fosse um início de um redirecionamento em sua carreira, algo que infelizmente não teve como ser realizado. Ainda assim, é curioso conferi-lo em um longa bastante dramático, que não ignora seu potencial físico ao mesmo tempo que tenta exercer um viés mais denso e eloquente.

Em Contagem Regressiva, Walker aparece como Nolan Hayes, homem que chega a um hospital às pressas com a esposa grávida. Ela está em pleno trabalho de parto, e suas condições são críticas, pois possui apenas 6 meses de gestação. Em seguida vem a notícia: a mulher morreu ao dar a luz a uma menina que, por sua vez, precisa ficar em um respiradouro até que seus pulmões estejam fortalecidos o suficiente para funcionarem por conta própria. Porém, além desse cenário trágico, há algo muito pior se desenvolvendo em um âmbito mais amplo: estamos em New Orleans justamente durante o ataque do furacão Katrina, que simplesmente devastou a cidade. Logo um enchente tomará conta da região, pessoas serão evacuadas e a luz elétrica acabará. Restará apenas esse pai, sozinho e abandonado, lutando para manter sua filha viva.

Por muito mais do que a metade do desenrolar desta história teremos apenas o protagonista em cena. A sensação de angústia será aumentada graças a um inteligente recurso: com a bateria da aparelhagem que mantém o bebê respirando se esvaindo, este homem precisará manualmente recarregá-la a cada dois ou três minutos. Assim, literalmente, sentiremos as horas se passarem, enquanto ele espera por ajuda e pensa em soluções que poderiam retirá-los daquela situação de desespero. Para que a narrativa não se torne tão monótona, há de tempos em tempos flashbacks que mostram como o casal se conheceu, como era a relação entre os dois e a felicidade e amor que partilhavam entre eles – bem o oposto do que agora ele está enfrentando praticamente por conta própria, naqueles que certamente estão sendo os piores instantes de sua vida.

O diretor e roteirista Eric Heisserer, até então conhecido por ter trabalhado no texto de remakes como A Hora do Pesadelo (2010) e O Enigma de Outro Mundo (2011), estreia como realizador em Contagem Regressiva, um filme corajoso pelas decisões que assume. Um só personagem, poucas surpresas e quase sem ter no que se apoiar exigiriam um intérprete habilidoso, e Paul Walker sai-se relativamente bem. No entanto, é impossível não ter a impressão de estarmos diante de um telefilme. Por exemplo, mesmo diante da catástrofe natural, não há uma única cena no exterior que explore esse visual, num investimento zero em efeitos especiais. O drama, aqui, ao contrário do se pode imaginar num primeiro momento, é interno. Um inesperado posicionamento, mas que ainda assim convence diante seus recursos limitados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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