Crítica


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Sinopse

Histórias centradas no magnetismo sexual de empregadas domésticas. Adolescentes que paqueram e causam problemas familiares; um jovem obcecado por domésticas; um moralista se rendendo aos encantos de alguém.

Crítica

Os três segmentos que formam Como é Boa Nossa Empregada têm em comum a pegada engraçada e a presença determinante de domésticas em trajes sumários, cuja sensualidade é responsável por desestabilizar patrões e quem mais as circundam. No primeiro episódio, Lula e a Copeira, dirigido por Ismar Porto, Pedro Paulo Rangel interpreta um jovem que mora bem, na Zona Sul do Rio de Janeiro, numa casa com direito a piscina e outros luxos. Ligado em astronomia, ele utiliza seu telescópio para além de enxergar as estrelas. No quesito mulher, o alvo da lente não é apenas a vizinhança desinibida, mas também a nova copeira (Vilma Chagas), uma morena vistosa, que, da mesma maneira, chama a atenção de seu pai e do médico engomadinho, amigo da família. A malandragem juvenil do protagonista é primordial do momento em que ele faz a triagem informal das candidatas ao emprego à construção da traquitana que permite entrar furtivamente no quarto daquela que todos desejam.

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A mistura de erotismo e comédia está igualmente presente em O Terror das Empregadas, dirigido por Victor di Mello, que vem logo a seguir. Nele, Bebeto (Stepan Nercessian) é um adolescente tarado por empregadas domésticas. Preocupada com a condição do filho, sua mãe (Maria Pompeu) recorre à expertise do psicólogo vivido por José Lewgoy, profissional mais interessado nas pernas que nos sintomas de suas pacientes. Diagnosticado como portador de complexo de inferioridade, Bebeto é aconselhado a procurar prostitutas que, segundo o analista, estariam um degrau acima das domésticas na configuração social, um preconceito devidamente ridicularizado. Aqui, se sobressaem os trabalhos do então jovem Nercessian e do já veterano Lewgoy, além da utilização da volúpia como instrumento para deflagrar uma série de comportamentos e sinais, claro, deturpados para que se alcance os almejados efeitos cômicos. A principal musa da vez é Dilma Lóes, atriz, contudo, desprovida de demais talentos.

No derradeiro e mais interessante capítulo, O Melhor da Festa, dirigido também por Victor di Mello, Jorge Dória interpreta um moralista pai de família, que encrenca com o namorado cabeludo da filha, com as escapadas do filho ao quarto da empregada e até com o decote “indecente” da esposa. Essa moral aparentemente inabalável, porém, é demolida pela beleza evidente da morena que serve drinks numa festa de grã-finos. Completamente tomado pela tentação, ele começa a cercar a mulher, até que dela consiga uma resposta positiva. Victor di Mello prepara o terreno com muita inteligência para o desfecho irônico que envolve a participação especial e decisiva de Carlo Mossy, fazendo de cada movimento um componente importante aos desdobramentos da aventura extraconjugal. Assim como nos fragmentos precedentes, sobretudo o inicial, a empregada é o alvo, mas não demonstra fragilidade, pelo contrário, faz do desejo que suscita uma forma de dominação frente ao instinto masculino.

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Como é Boa Nossa Empregada, diferentemente de boa parte dos filmes episódicos, nos quais impera a desigualdade, apresenta um conjunto conceitualmente coeso, a despeito das discrepâncias de abordagem. Um ponto comum é a utilização das músicas como elemento narrativo valioso. A cargo, na ordem, de Osmar Milito, José Itamar de Freitas e Clabarra, elas, de certa forma, comentam as histórias que se desenrolam, adicionando outra camada ao humor predominante. Misturando atores tarimbados e/ou com notória aptidão para a representação e outros nem tanto, especialmente as empregadas que estão ali mais pelo valor de suas curvas, o longa-metragem de Ismar Porto e Victor di Mello é um belo exemplar desse período conhecido como pornochanchada, em que o sexo foi alçado à condição de protagonista. Neste caso, de fato, a luxúria dá as cartas. Sua principal função é provocar, seja a comédia rasteira, pura e simples, ou eventuais observações sarcásticas, tudo numa embalagem sensual e bem-humorada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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