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Sinopse

Após a trágica morte de sua esposa, o pai da jovem Ella se casa novamente. Quando ele também morre, a moça fica à mercê de uma cruel madrasta e de suas filhas. Ella é tratada como uma serva por sua nova família. Quando a corte promove um grande baile, Ella é proibida por sua madrasta de ir, mas consegue ajuda de uma fada madrinha.

Crítica

Kenneth Branagh devolveu a magia do cinema ao tapete vermelho da Berlinale 2015 ao apresentar sua versão de Cinderela. Conhecido por adaptar – nem sempre com a mesma felicidade – clássicos como Henrique V (1989), Muito Barulho por Nada (1993), Frankenstein de Mary Shelley (1994) e Hamlet (1996), o diretor norte-irlandês levou a história da jovem maltratada pela madrasta à altura do melhor imaginário infantil.

O roteiro de Chris Weitz (Um Grande Garoto, 2002) mantém intocada a tradicional história popular difundida desde o século XVII. Ella (Lily James) é a filha do cavaleiro aventureiro (Ben Chaplin), que resolveu casar após a morte da esposa (Hayley Atwell). Esta, símbolo de doçura e bondade, é substituída pela falsa Lady Tremaine (Cate Blanchett, em grande atuação), que traz consigo as filhas Drisella (Sophie McShera) e Anastasia (Holliday Grainger), provas de que a fruta não cai longe do pé. Se não eram de harmonia, pode-se dizer que os primeiros dias eram de um educado convívio, situação que mudará completamente com a morte de Chaplin durante uma de suas aventuras.

A saída do pai de cena faz com que Ella seja alvo fácil das maldades de Tremaine, que realoca a jovem no quarto empoeirado da casa e a rebaixa à serviçal. Tudo em nome de ocupar-se para superar a tristeza. Cinderela, que carrega as últimas palavras da mãe a qualquer custo, “tenha coragem e seja gentil”, aceita a postura sem reivindicações. A sorte – que parecia definitivamente não estar ao lado dela – leva a garota a conhecer o príncipe da região (Richard Madden). Ele logo se aprisiona por sua beleza e realiza um baile em que todas as mulheres deveriam estar presentes. O príncipe precisa reencontrá-la.

Ella se prepara para a festividade, mas é proibida de participar pela madrasta, que tem interesse em casar as filhas com alguém importante. Em casa, sem traje nem como ir ao baile, a sorte reaparece para a protagonista ao lhe presentear com uma estranha que transforma abóbora em carruagem e animais em chofer. Em pouco tempo, a mocinha está pronta para a festa, cujo atraso lhe fará se destacar ainda mais.

Branagh conduz Cinderela com a convicção de quem tem com a história muita naturalidade. A facilidade com que leva a trama deve-se muito à opção de trabalhar com o humor tipicamente inglês. A escolha ameniza as injustiças, o que não significa distrair a história do foco, mas, sim, torná-la interessante para o público adulto. O figurino de Sandy Powell tem um trabalho irretocável. Além de construir à perfeição o mundo mágico do conto, permite as significativas distinções entre a bondade de Ella, vestindo um azul claro, e a maldade de Lady Tremaine, retratada com o vestido preto e dourado. Se por alguns momentos o tom de magia do filme viu-se repetitivo em frases como “tenha coragem e seja gentil” e o final termina inevitavelmente soando artificial, também é verdade que trata-se de uma adaptação que procura, antes de tudo, o lado lúdico dos contos de fada.

Os movimentos da câmera dirigida por Haris Zambarloukos imprime leveza e grandiosidade na narrativa, ora com planos aéreos, deslocando-se por cima de muros e palácios, ora em que a dureza do travelling é substituída por movimentos balanceados. Os efeitos especiais, em sua maioria bem contidos e nada extravagantes, foram guardados para a cena em que a magia de Cinderela se desfaz. Em uma cena tecnicamente impressionante, acompanhamos a carruagem e seus integrantes se desfazerem quando chega a fatídica hora da badalada do sino. Sem invenções ou releituras, a Cinderela de Branagh leva para a sala escura o melhor do imaginário dos contos de fadas. Dessa forma, torna-se candidato fácil a ser considerado a adaptação definitiva do clássico.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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