Crítica


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Sinopse

As diversas mudanças na vida de quatro pessoas que recebem a notícia da morte precoce de uma jovem.

Crítica

Realizado como trabalho de conclusão do curso de Produção Audiovisual da Famecos/PUC-RS, o longa-metragem Cinco Maneiras de Fechar os Olhos é pioneiro em vários sentidos. É o primeiro projeto desta magnitude e ambição a ser realizado por alunos universitários no Brasil. É, também, maduro no seu formato e estrutura, revelando um entendimento do fazer cinematográfico que vai muito além da pouca vivência dos seus realizadores. Se no passado cinema se fazia pelos exemplos dos que vieram antes e observados na sala escura, hoje e amanhã – principalmente – esta expressão em constante mudança está sendo reinventada, recebendo novas influências a todo instante, acima de tudo pelas descobertas e experimentações dos seus iguais, habitantes de um mundo instantâneo com possibilidades infinitas. A aventura do seu colega de cinco minutos atrás pode oferecer mais para um trabalho específico do que o clássico consagrado há meio século. Mas um não ignora o outro, e a união de ambos ganha força e significado quando em um movimento como o que aqui observamos.

Todo filme episódico, inevitavelmente, irá apresentar certa irregularidade, pois será difícil que todas as tramas apresentadas despertem o mesmo grau de interesse. Da mesma forma, projetos comandados por mais de um realizador costumam apresentar dissonâncias em seu conjunto, uma vez que cada cineasta possui um estilo próprio de realização. Em Cinco Maneiras de Fechar os Olhos, no entanto, estes dois riscos são assumidos de rosto erguido e peito aberto. O resultado, justamente por isso, é bastante satisfatório. Temos uma obra ousada e pertinente, que se por um lado revela uma falta de consistência que só o passar dos anos pode oferecer, por outro usa e abusa de energia e coragem. Cinco diretores assinam o longa – Abel Roland, Amanda Copstein, Emiliano Cunha, Filipe Matzembacher e Gabriel Motta – e cinco são também as histórias contadas. Quatro vidas que são, de um modo ou de outro, afetadas pela morte de uma garota suicida. Ou não. O certo nunca foi tão duvidoso.

Uma jovem (Renata de Lélis, vista há pouco em Contos Gauchescos, 2012) se prepara para morrer. Está sozinha em casa, e o fim parece inevitável. Em paralelo, acompanhamos outros destinos. A mãe que cuida de um restaurante e dos dois filhos, enquanto que o ex-marido pretende se mudar para São Paulo, levando consigo o garoto mais velho. Este rapaz, já adolescente, indeciso entre as opções – familiares, profissionais, sexuais – que a vida lhe oferece. A menina que está sendo encaminhada pela mãe para uma carreira como modelo fotográfica, perdida entre a possibilidade de um namorado ou do sabor de uma coxinha de galinha. Ou o executivo cujo prazer vem à noite, quando sobe ao palco travestido para um show de dublagem, ao mesmo tempo em que percebe seu mundo desabar aos poucos. Onde estão as conexões entre estes personagens? Ou, por outro lado, o que exatamente os afasta diante tamanha humanidade?

A grande atuação do elenco é o desempenho de Ravel Andrade (irmão mais novo de Julio Andrade), que consegue revelar apenas no olhar, com tranquilidade e discrição, o universo em conflito de um adolescente em crise, evitando o exagero. O mesmo pode ser dito de Carlos Paixão, que se move do profissional engravatado para a diva de peruca e maquiagem com um ótimo jogo de cintura. Atores mais conhecidos, como Rafael Sieg e Marcelo Adams, ajudam a compor um grupo harmônico e eficiente. Mas o que Cinco Maneiras de Fechar os Olhos pode mesmo oferecer ao espectador é a certeza de estar entregando um bom cinema, que evita armadilhas fáceis (fim à ditadura da narração em off, felizmente!) e faz dos talentos individuais envolvidos uma soma em prol de um bem maior, que é a obra de arte em si. Um retrato nem sempre satisfatório, mas ainda assim conectado com a realidade atual, feita por cada um de nós. Em ambos os lados da tela.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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