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Sinopse

Flagrado traindo a namorada, Bruno toma um pé na bunda. Como vingança, ela publica um vídeo íntimo dos dois e ele vira chacota por conta de sua ejaculação precoce. Sua única saída é tentar provar a todos que é bom de cama.

Crítica

É de se louvar qualquer tentativa de fazer um cinema comercial no Brasil, que seja viável, atraia a atenção do público e justifique duas horas de puro e descompromissado entretenimento. Infelizmente, esse não é o caso de Cilada.com, uma bobagem sem pé nem cabeça ofensiva e aproveitadora. De longe um dos piores filmes nacionais feitos em muito tempo, essa comédia sem graça consegue ir contra qualquer sugestão de inteligência, tratando o espectador como um descerebrado incapaz de reflexão ou análise. A trama, pífia de tão rasa, só se sustenta – ou tenta – em cima de estereótipos, piadas ultrapassadas e grosserias. E mesmo assim passou com folga da marca dos dois milhões de pagantes nas bilheterias. Motivo de comemoração, não fosse a tristeza estapafúrdia que pode ser constatada por trás disso.

Bruno Mazzeo vem sendo apontado há algum tempo como a salvação do humor brasileiro. Até o pai dele, Chico Anysio, afirmou recentemente em uma entrevista à Revista Veja que admira o que o filho tem feito. Sua experiência no cinema, no entanto, até o momento se resumia a uma ponta em outra comédia, o sucesso mediano Muita Calma Nessa Hora, que teve mais de um milhão de espectadores em 2010 e que também contava com a ajuda dele no roteiro. Cilada.com, portanto, é sua “estreia” oficial na tela grande, agora assumindo, além do texto, a posição de protagonista. Para isso, escolheu um terreno seguro: adaptar sua série televisiva que obteve uma ótima repercussão no canal fechado em que era exibida. Nada exagerado, mas ainda assim satisfatório. Nessa transposição, no entanto, o que se percebe é que o programa de televisão continua em cena, seja no visual, na estética, nas soluções e em qualquer outro quesito técnico. O que mudou foi a linguagem, mais chula e escatológica. Sem os limites impostos pelo senso comum, aqui ele pode “ousar” – ou baixar de vez o calão, para ficarmos mais óbvios. Tal qual o filme.

Nessa missão, Mazzeo se uniu ao Midas do cinema nacional, José Alvarenga Jr., diretor dos campeões de bilheteria Divã (2009), Os Normais (2003) e Os Normais 2 (2009), Zoando na TV (1999) e outros cinco filmes dos Trapalhões, entre eles A Princesa Xuxa e os Trapalhões (1989) e O Mistério de Robin Hood (1990), ambos também com a Rainha dos Baixinhos. Pelo que se vê, o cara sabe falar com grandes audiências. Ele provavelmente é o cineasta com a melhor média de público do cinema nacional. E aqui mais uma vez ele atende as massas. Só que ao invés de entregar o que deveria ser visto – algo inteligente, perspicaz e surpreendente – ele decide trilhar um caminho seguro, previsível e repetitivo. Mais do mesmo, sem tirar nem por.

Cilada.com, em linhas gerais, narra o que acontece a um cara que traiu sua namorada e, por causa disso, teve exposto na internet um vídeo em que ele aparecia tendo uma transa relâmpago – ejaculação precoce é o mínimo – com a ex. Primeiro ele tenta reatar com ela, para depois desistir e partir para a vingança. E dá-lhe espaço para palavrões, baixarias de todas as espécies e cenas constrangedoras – ninguém merece ver Sergio Loroza pelado, por favor! O final, obviamente, todos já adivinham de antemão, já que, por baixo de tanta irresponsabilidade e inconsequência, esconde-se uma comédia romântica. Mazzeo não é um bom ator, Alvarenga está no piloto automático e os dois juntos não conseguiram fazer cinema. Como caça-níqueis, pelo jeito deu certo. Mas nunca mais do que isso.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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