Caçando Vagalumes
Crítica
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Sinopse
Já faz muito tempo que Manrique perdeu o interesse na vida em sociedade. Para ele, o trabalho em uma mina de sal isolada no Caribe colombiano representa a oportunidade perfeita de ficar sozinho. Mas dois visitantes inesperados mudam a sua rotina: Valéria, a filha adolescente cuja existência ele ignorava, e um cachorro que gosta de caçar vagalumes.
Crítica
O emprego salva ou condena. Para Manrique, responsável por supervisionar uma mina de sal abandonada, a oportunidade compactua com a vontade de ficar sozinho. No Caribe colombiano, nada o acompanha, exceto a beleza do vazio.
Escrito e dirigido pelo estreante Roberto Prieto, Caçando Vagalumes é, antes de tudo, uma aposta sensorial. Boa parte do filme transcorre unicamente pelo encaixe suave das paisagens cotidianas, com destaque para o belo e harmonioso trabalho de Sara Millán, na direção de arte, e Eduardo González, na de fotografia. Afastado do mundo, e tendo por único contato a central com a qual se comunica para reportar a normalidade diária, a experiência estética proposta pelo diretor nos remete, por vezes, à indicação metafísica de um ocidental Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas, de Apichatpong Weerasethakul.
O isolamento não suprime a imprevisibilidade. Por isso, a rotina hermética de Manrique, resignadamente vivida pelo experiente colombiano Marlon Moreno, sofre sobressaltos com o aparecimento de um cachorro que gosta de caçar vagalumes e a chegada de Valéria, a filha adolescente que desconhecia. Uma filha e um cão. Os visitantes inesperados inspiram mudanças no protagonista. Em nome do direito de chamar alguém de pai, Valentina Abril interpreta com convicção a menina que permite ao homem abrir seu coração. Pois as portas do coração só se abrem por dentro.
Investir na incógnita que são as relações humanas, trabalhar o minimalismo da afetividade e esculpir o tempo. Os três pilares em que se apoia o primeiro filme de Prieto não condizem com sua inexperiência. Filmar requer coragem. Mais do que correto, o resultado é bonito e legítimo – pleno. Exemplo que demonstra que o cinema pode ser aprimorado, como qualquer técnica, mas sobrevive pelo essencial, presente em alguns realizadores como a farinha na hóstia – sagrada e imaculada.
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