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Sinopse

A amizade e o respeito entre um jovem chamado Albert e seu cavalo Joey. O vínculo entre eles, no entanto, é quebrado quando o animal é vendido para a cavalaria americana e enviado às trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Apesar de muito jovem para se alistar, Albert faz de tudo para tornar-se soldado e segue para a França com o objetivo de salvar seu amigo.

Crítica

Steven Spielberg estava há três anos sem fazer um longa-metragem - o último foi Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), que faturou quase US$ 800 milhões  em todo o mundo - e há seis sem dirigir um drama de impacto, desde Munique (2005), indicado a 5 Oscars, inclusive a Melhor Filme. Ao que tudo indica, estes mesmos resultados serão atingidos agora com Cavalo de Guerra, uma obra que tem tudo para fazer bonito junto ao público e com a crítica, mas que não deverá ficar na memória de ninguém por muito tempo. E isso unicamente pelo fato de se tratar de uma produção dirigida justamente por Spielberg. Qualquer outro realizador que entregasse o mesmo trabalho seria avaliado de forma diferente, mas no caso do homem que já assinou obras como A Lista de Schindler (1993) e Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), entre tantas outras, esse olhar ganha uma nova e mais acirrada perspectiva.

Como não poderia ser diferente, essa é a história de um cavalo. No caso, Joey, um bravo e imponente azalão que é adquirido num leilão pela família Narracott. O problema é que os pequenos fazendeiros precisavam de um animal de força, não de corrida, que os ajudasse na plantação. A ruína só é evitada quando o filho, Albert (o novato Jeremy Irvine), não só o ensina como se comportar como, ao domá-lo, estabelece um forte laço de amizade e confiança. Mas estamos na década de 1910, vésperas da Primeira Grande Guerra, e os esforços militares logo se fazem presente, arrebatando a tudo e todos, inclusive Joey. Durante os próximos anos ele e Albert estarão separados, mas ambos no front. É claro que o reencontro se dará de forma inacreditável e emocionante, e até lá vários momentos de tensão, perigo e suspense deverão ser superados.

Como já foi dito, o maior mérito e também o principal problema de Cavalo de Guerra é justamente o fato de ser um filme de Steven Spielberg. Quem é um profundo conhecedor do trabalho do cineasta não irá se surpreender com nada que aqui é visto – tanto de forma positiva quanto num viés mais negativo. Está tudo no lugar – a trilha sonora grandiosa de John Williams, a fotografia belíssima de Janusz Kaminski, a edição poderosa e envolvente de Michael Kahn. Todos antigos parceiros de Spielberg, responsáveis pelos longas mais populares do cineasta, reunidos aqui mais uma vez a serviço de um conto de fortes tintas dramáticas.

Infelizmente, no entanto, muito do que aqui encontramos já fora visto antes – e de forma ainda melhor, ou ao menos mais bem acabada. Um exemplo: há um momento em que a garota francesa e Joey desaparecem, à galope, atrás de uma colina. Essa sequência é idêntica ao momento em que a criança Christian Bale se depara com a guerra próxima em Império do Sol (1987). Ou os momentos mais intensos da batalha, que não ficam nada devendo à primeira meia hora de O Resgate do Soldado Ryan (1998). Sem falar na óbvia referência ao clássico Tubarão (1975), outra produção do cineasta igualmente baseada numa trajetória animal.

Indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro como Melhor Filme (Drama) e presente em várias listas de melhores do ano de acordo com os críticos, Cavalo de Guerra é um longa que honra o histórico do seu realizador, mas que fica em débito nos quesitos originalidade e ousadia. Grandioso e envolvente enquanto dura, funciona como alerta para a inutilidade dos grandes conflitos armados, para a importância da amizade e como um libelo em favor da proteção e melhores cuidados com os animais. Mas soa inevitavelmente como algo antigo, dos anos 80, empolado e superficial, como um imponente bolo de noiva: chama atenção, mas ninguém fica plenamente satisfeito ao enfrentá-lo do início ao fim.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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