Crítica


4

Leitores


1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

Enquanto têm de lidar com a problemática filha adolescente, Toula e Ian enfrentam problemas matrimoniais causados pelo constante estresse de lidar com a família dela. Não fosse o suficiente, surge um novo casamento para ser organizado que colocará todos para trabalharem juntos.

Crítica

Quando Casamento Grego (2002) chegou aos cinemas, há mais de um década, ninguém estava preparado para o que esse pequeno filme, cujo orçamento havia sido de meros US$ 5 milhões, estava prestes a alcançar. Seu faturamento em todo o mundo foi de mais de 70 vezes o seu custo, e pra não falarem que o fenômeno foi apenas de público, recebeu indicações ao Oscar (Melhor Roteiro Original), Globo de Ouro (Melhor Filme e Atriz em Comédia ou Musical) e no Sindicato dos Atores (Melhor Elenco), entre tantos outros. O caminho para Nia Vardalos, que interpretava a protagonista – e era também autora do roteiro – parecia destinado ao sucesso. No entanto, não foi bem isso que aconteceu nos anos seguintes. Tanto que apenas agora, quando aparentemente desistiu de tentar se sobressair com algo diferente, ela está de volta com Casamento Grego 2, filme que nada mais é do que uma reedição de tudo que foi visto na primeira vez, porém sem o frescor e a perspicácia de antes.

Casamento Grego não fez todo esse sucesso por ser uma comédia romântica, ou for ter como foco uma família de descendentes gregos, e muito menos se tratar de uma história com final feliz. Outros já abusaram antes destes mesmos argumentos, com maior ou menor grau de inspiração, e tiveram resultados muito diferentes – a maioria aquém dos aqui conquistados. A grande diferença – e esse, sim, foi seu golpe de sorte – foi ter como protagonista um tipo completamente comum, quase equivocado, mas que a despeito de todas as suas estranhezas acabava com o mocinho no final, feliz e dona do próprio nariz. A Toula que Vardalos defendia era uma personagem rica em suas sutilezas, com quem qualquer um na plateia poderia se identificar. Ela era meio gordinha, mas não tanto, de nariz grande e cabelos espalhafatosos, com pais indiscretos e familiares mais sem noção ainda, que se apaixonava pelo galã boa pinta e, com seu charme bastante particular, acabava por conquistá-lo. É uma pena constatar, no entanto, que todos esses elementos estão ausentes na sequência.

O casamento grego da vez não é mais o da protagonista, que vai muito bem, obrigado. E nem o da filha, novidade do elenco interpretada por Elena Kampouris (Homens, Mulheres e Filhos, 2014) – participação, aliás, que nunca chega a se justificar, mais por falha do texto – cortesia novamente de Vardalos – do que por causa da jovem atriz, que não encontra oportunidade para mostrar a que veio. A união da vez é a dos pais da protagonista – Gus (Michael Constantine, de Desafio à Corrupção, 1961) e Maria (Lainie Kazan, de Pixels, 2015) – após ele descobrir, por acaso, que o compromisso que assumiram décadas atrás, antes de fugirem da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, nunca chegou a ser, de fato, concretizado. O mote, que até poderia ser interessante sob um ponto de vista mais perspicaz, acaba reduzido a uma disputa de belezas entre os dois, com ela exigindo provas de amor como uma virgem ingênua e ele sem paciência para os caprichos dela, agindo como um garoto mimado, porém com mais de 70 anos nas costas.

Infelizmente, Casamento Grego 2 é apenas isso, e nada além. Portas para outras possibilidades chegam a ser abertas por um momento ou dois, mas não mais do que frestas que vislumbram possibilidades que logo em seguida serão descartadas. As tentativas de Toula e Ian (John Corbett) de reavivarem a chama da paixão que os uniu são deixadas de lado sem a menor cerimônia, assim como o casal vivido por Rita Wilson (esposa de Tom Hanks e uma das produtoras do filme, ao lado do marido) e John Stamos, que entra e sai da trama sem nenhuma utilidade prática. Ou o primo Angelo (o ex-NSync Joey Fatone) que revela uma homossexualidade até então insuspeita, porém igualmente sem a menor função a não ser prover uma certa diversidade contemporânea à nova história. Mas são meros esboços, e nunca um esforço completo. Exatamente como este filme, um produto nitidamente comercial que até não chega a incomodar, mas que certamente será esquecido na mesma proporção em que a lembrança do sucesso original perdura até hoje.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
4
Edu Fernandes
7
MÉDIA
5.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *