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Sinopse

Jenny tem uma família unida e convencional. Ela provoca um alvoroço doméstico quando anuncia que irá casar com uma mulher. Jenny passa, então, a lutar com unhas e dentes para a cerimônia acontecer, a fim de provar que não há nada de errado com o seu amor, muito pelo contrário.

Crítica

A união homossexual e sua estrutura enquanto família é uma realidade cada vez mais concreta, independentemente do que digam políticos retrógradas ou religiosos mais conservadores. E se tal fato está cada vez mais presente nas ruas, como o mesmo não se daria também nas telas? Talvez seja para suprir essa lacuna que um longa como Casamento de Verdade (também conhecido no Brasil pelo título Jenny Vai Casar) seja pensado, ainda que não ocupe tal espaço com muito empenho. A trama, a respeito de duas jovens decididas a se casarem independente do que diga seus familiares, amigos e vizinhos, parece mais preocupada com as opiniões destes do que com a dos reais interessados. Dessa forma, tem-se uma oportunidade interessante que, por um meio ou outro, termina sendo desperdiçada em um discurso redundante e pouco ousado.

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O título original é Jenny’s Wedding, ou seja, O Casamento de Jenny. Jenny, vivida aqui por Katherine Heigl, é a mais velha dos três filhos do casal interpretado pelos veteranos Eddie (Tom Wilkinson) e Rose (Linda Emond, vista há pouco em Meu Nome é Ray, 2015, que também trazia como debate a questão da orientação de gênero). Michael (o estreante Matthew Metzger), o caçula, tem sempre belas garotas ao seu redor, enquanto que Anne (Grace Gummer, filha de Meryl Streep na vida real, presente ao lado da mãe no faroeste Dívida de Honra, 2014) se encontra em um casamento infeliz. O rapaz parece nunca ter tido problemas, enquanto que a irmã, por outro lado, age como se os tivesse acumulado desde sempre. Já a primogênita se esforça ao máximo para mostrar que está tudo bem, enquanto que no seu interior não aguenta mais carregar uma mentira: sua verdadeira identidade sexual.

Heigl vive em cena aquela figura que qualquer jovem gay ou lésbica já foi em algum momento de sua vida, principalmente enquanto não assumia sua condição abertamente: a que precisa fingir um namorado em cada encontro familiar, respondendo às inevitáveis perguntas sobre sua vida amorosa com declarações vagas e sem profundidade. Porém, ela está cansada. Principalmente porque já vive há anos com a namorada, Kitty (Alexis Bledel, de Quatro Amigas e um Jeans Viajante, 2005), a quem seus pais e irmãos tratam como uma mera amiga. Chegou a hora de enfrentá-los, acima de tudo porque Jenny deseja oficializar sua relação em uma cerimônia com tudo a que tem direito. E uma vez que o jogo se abre, caberá aos demais aprenderem como lidar com a realidade dos fatos.

Ao invés da diretora e roteirista Mary Agnes Donoghue, assinando seu primeiro trabalho como realizadora desde Paraíso (1991) – há exatos 25 anos! – investigar os dilemas experimentados pela protagonista, o quanto tal situação pode ou não ter interferido em sua vida amorosa e o que a levou a manter essa condição em segredo por tento tempo, ela parece preferir se centrar naqueles ao redor de onde o foco deveria estar. Assim, dá-se espaço à irmã eternamente insatisfeita, à mãe insegura ou ao pai indeciso. A primeira chega à conclusão que o segredo de uma vida plena pode ser o gramado verde do jardim, enquanto que a outra decide mudar de vida enfrentando as vizinhas durante uma compra no mercado da esquina. Ao pai cabe o drama mais real e menos panfletário, justamente por esse aparentar preocupação pela relação entre ele e a filha, e não tanto pelo que os outros possam ou não pensar. Contribui para isso também o fato de termos aqui Wilkinson, o melhor de todo o elenco, em uma composição segura e sem exageros. Bem ao contrário do que se percebe nos demais.

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Entre soluções óbvias e caminhos equivocados, Casamento de Verdade tenta pegar a onda do cinema LGBT, porém lhe falta coragem para se assumir como tal. Heigl uma vez pensou em se lançar como estrela, mas tudo o que conseguiu foi se repetir em comédias românticas sem imaginação. Essa aqui até poderia apontar para outro destino, mas tudo que consegue é mais do mesmo. Ela e Bledel não possuem a menor química juntas – até os beijos e carinhos entre elas, quando acontecem, são sempre castos e à distância, como se houvesse um incômodo tanto da parte delas como da cineasta preocupada em registrá-las. Sem identidade, o filme resulta pálido diante das promessas que poderia cumprir. Talvez os mais ingênuos até se deixem levar por seu discurso convencional disfarçado de moderno, mas não se engane: nada aqui tem força para perdurar além de um saco de pipoca.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
5
Edu Fernandes
6
MÉDIA
5.5

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