Crítica

Que atire a primeira xícara quem nunca começou o dia com um bom café. Seja puro, com açúcar, adoçante ou leite, a bebida é, sem dúvida, um convite para dar início ao trabalho, mas não somente a ele. Tomado por pessoas de todas as classes sociais e regiões do Brasil, o café faz parte da história do país e esteve presente em momentos importantes da nossa economia e política. Com o intuito de contar a trajetória do grão mais constante no cotidiano do brasileiro, nasceu a animação Café, um Dedo de Prosa, de Maurício Squarisi.

A ideia parece ter surgido na mesa de alguma cafeteria. A narração em off é feita por dois amigos, interpretados pelo compositor e ator Wandi Doratiotto, que também assina a trilha sonora, e pela atriz Vera Holtz, ambos apaixonados confessos por café. A conversa é permeada por dados históricos que começam na África, onde o grão foi descoberto, passam pela era de ouro vivida no Brasil, com as grandes fazendas cafeeiras, e chegam até o presente, com a bebida consolidada no cotidiano não só do brasileiro, mas do mundo. Nota-se uma preocupação com nomes e datas, o que faz do longa uma verdadeira aula sobre o surgimento e a solidificação do produto de leste a oeste. Squarisi consegue fazer uma animação de traços simples, com técnicas bem tradicionais, cujo clima agrada dos oito aos 80 anos. O traço quase infantil, que pode parecer estranho às crianças acostumadas com as superproduções atuais, confirma a fonte de Café, um Dedo de Prosa: a simplicidade, marca também do processo que transforma a matéria-prima, quando em contato com a água quente, numa das bebidas mais consumidas do planeta.

A conversa entre Wandi e Vera não é propriamente infantil, incluindo, por exemplo, piadas sobre a infidelidade dos nobres durante a expansão do comércio do grão. Mas nada que não possa ser apreciado também pelos pequenos, pois é justamente o diálogo entre os narradores que faz com que tudo soe natural, entrecortado por boas risadas, assim como acontece nas mesas dos cafés espalhados pelo mundo. O espectador observa as imagens, mas a imaginação voa e faz visualizar Wandi e Vera curtindo um bom papo ao lado de suas xícaras.

Quem viveu a infância nos anos 90 vai reconhecer a voz de Wandi, responsável por canções que embalavam alguns esquetes dos programas Rá Tim Bum e Castelo Rá Tim Bum, ambos da TV Cultura. Para essa geração, o sabor de Café, um Dedo de Prosa torna-se ainda mais agradável, pois faz lembrar de um aprendizado que acontecia de forma lúdica e divertida, assim como propõe o filme.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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