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Sinopse

Um jovem agente do FBI se infiltra em uma quadrilha formada por atletas. Eles usam suas especialidades para cometerem crimes contra grandes corporações e desestabilizar o mercado mundial.

Crítica

O prazer proporcionado pela experiência de se assistir a um filme no cinema continua sendo inigualável, uma verdade incontestável. E isso vale o ingresso, independente do título em questão ser uma obra-prima ou mesmo puro entretenimento. No caso de Caçadores de Emoção: Além do Limite (remake de Caçadores de Emoção, 1991) o ideal é ir desapegado da inevitável comparação com o anterior, aberto para a proposta qual fosse. O mínimo a esperar, afinal, era encontrar uma boa história de ação. Curiosamente, ainda na fila da bilheteria, me deparei com dois marmanjos que falavam com entusiasmo a respeito da nova versão. Provoquei um curto debate lembrando que se tratava de uma refilmagem e tal. Mas eles logo foram sentenciando.

- É mas aquele só tinha surfe e salto em altura. Agora o mergulho é bem mais profundo, companheiro. Você vai ver o que eles fizeram.

Certo. Com dez minutos de projeção, percebi que estavam corretos na observação. E deviam estar felizes com o resultado das frenéticas cenas de ação que estávamos vendo e também sentindo na sala. Motocicletas voavam sobre montanhas, surfistas pegavam ondas radicais em meio a uma animadíssima balada em alto mar entre lanchas e barcos cheios de mulheres curtindo raves inebriantes, esqui na neve... tudo com um profundo realismo e um impacto visual perfeito para compor a tal fórmula “esporte radical + paisagens deslumbrantes + 3D”. Coisa de tirar o fôlego. Mesmo. Só que aí está o ponto em questão. Tudo isso termina sendo o único mérito deste filme. Ainda que não seja pouco, pois não foram usados recurso de computação – foram lá e filmaram! Mas logo a surpresa passa e você já não está mais tão impressionado. E fica esperando algo a mais. E aí? Pois é justamente o que falta.

O enredo básico é exatamente o mesmo do longa original. Um jovem agente do FBI, Johnny Utah (Luke Bracey), se infiltra em um habilidoso time de atletas aventureiros, liderados pelo pouco ou nada carismático Bodhi (Edgar Ramirez). Os esportistas são os principais suspeitos em uma onda de crimes extremamente incomuns. Disfarçado, e com a vida em constante perigo, Utah se esforça para provar que eles são os arquitetos de uma sequência de roubos sem um motivo plausível. Mas as mudanças e escolhas da equipe não levaram em conta os diversos pontos positivos do filme original.

Não adianta afirmar que a ideia seria resgatar a mesma proposta de beleza cinematográfica que fez sentido e conexão com o espírito daqueles anos 1990. Afinal, o grande problema é que ninguém convence em cena. Os bandidos não tem o charme e a malícia daqueles mascarados de presidente (uma sacada perfeita e hilária, ainda mais se pensarmos no momento atual) que roubavam para poder viver a emoção dos seus momentos. Os bad boys de 2016 cometem suas infrações para alcançar um tal ponto inatingível que apenas um cara chegou perto e tal... Uma balela que não cola. Outra coisa: o romance entre Utah e a garota é morno. Não decola e nem cria rivalidades. O esperado duelo entre o protagonista e Bodhi (guru mentor) é pueril, previsível, não dá nem pra largada.

Inevitável considerar que está neste duelo a razão do filme. Pois temos um agente que se infiltra e precisa encarar aquilo que vibra em sua essência. A emoção de desafiar o seu limite. O que ele mais gosta de fazer e que infelizmente vai acabar tendo que enfrentar seus parceiros em nome da lei. E isso que nem precisamos nos esforçar para colocar em evidência os aspectos positivos do filme original. Isso pode ser melhor aprofundado num próximo texto. Parece que os cem milhões de dólares de produção foram empregados pensando apenas nisso: na sensação, na viagem, na emoção rápida e instantânea, sem espaço para aprofundamentos. Não surpreende o nariz torcido do público em geral e o fraco desempenho nas bilheterias. Muita coisa poderia ter sido diferente se tivessem levado mais em conta o tipo de filme originado pela produção de 1991.

Caçadores de Emoção: Além do Limite é vazio e frio. Não se destacam os conflitos morais, a paixão pela vida, sobre se apaixonar pela mulher de um cara que você admira, sobre ter que prender esse mesmo companheiro que você ama e admira. Bom, tudo isso havia no anterior. Um filme bom é sinônimo de um bom enredo. E para tanto sua narrativa precisa conter algumas coisas fundamentais. Tais como conseguir surpreender o espectador. Fazer ele pensar. Provocá-lo. Apresentar personagens bem construídos envoltos por uma trama que traga surpresa e originalidade. Uma direção criativa e ousada. Belas imagens de esportes de ação estão disponíveis em canais de esportes todos os dias. A tela de cinema precisa mais. Ela precisa de boas histórias e de bons realizadores.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.

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