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Sinopse

Em 1949, o perigoso rei da máfia Mickey Cohen se muda para Los Angeles. Uma equipe secreta formada por policiais decide executar um plano para acabar com o bandido e sua crescente rede de atividades criminosas.

Crítica

Caça aos Gângsteres é um filme tão equivocado quanto a pronúncia do título nacional, que aportuguesou a expressão em inglês “gangster” para o tupiniquim “gângsteres”, num resultado que soa estranho e anacrônico. Os problemas começam com a direção insegura do novato Ruben Fleischer, passa pelo elenco estrelado – mas nunca harmônico – e termina numa história já vista tantas vezes que, ainda que inspirada em fatos reais, soa como um amontoado de clichês tão incômodo quanto previsível. É de se perguntar como um time de atores desse calibre conseguiu ser convencido a participar de uma pataquada exagerada e distorcida como essa, que só deverá entreter à contento os menos exigentes e mais despreocupados.

A história de Caça aos Gângsteres se passa na Los Angeles de 1949, quando a sombra de Chicago – uma cidade, na época, dominada pelos negócios ilegais e pela violência coordenada pela máfia da região – começou a se reproduzir na costa do Pacífico. Ao invés de se submeter a um sistema em andamento, forças da região se manifestaram contra essa tomada de posse, clamando pelo controle local. E o novo chefão que surgiu se chamava Mickey Cohen (Sean Penn), um homem tão brutal quanto ganancioso. Ele queria tudo, e uma vez de posse do até então almejado seus olhos já estavam mirando um novo alvo. É neste momento em que o chefe de polícia (Nick Nolte) convoca um dos seus melhores oficiais (Josh Brolin), um dos poucos comprovadamente honesto, e lhe oferece uma missão suicida: organizar, extraoficialmente, um esquadrão que fizesse uso de força total para dar fim à ameaça que estava surgindo.

Há três tramas em andamento simultâneo no enredo, e o tempo em que passamos com cada uma não é dos mais equilibrados, dificultando a identificação do espectador e o desenvolvimento da ação. Primeiro temos o sargento John O’Mara (Brolin), que de tão cordato chega a ser insuportável. Sua vidinha ordinária de subúrbio e a vontade de fazer certo, porém sem inteligência para isso, o torna um protagonista sem o menor carisma, a despeito do talento do ator que o defende inutilmente. É aí que se abre espaço para o detetive Jerry Wooters, vivido por um irresistível Ryan Gosling. Charmoso e boa pinta, ele rouba facilmente a liderança do elenco, mesmo sem ser o personagem principal. É com ele que a mocinha (Emma Stone, perdida e sem ter o que fazer) irá arriscar o pescoço, e será dele também que virão as principais soluções para os problemas que vão surgindo. Mas seu campo de atuação é limitado, e toda vez que ameaça tomar o filme para si, tem suas intenções podadas, de forma frustrante para ambos os lados da tela.

A verdadeira estrela, portanto, acaba sendo, obviamente, o sempre voraz Sean Penn, que mesmo atolado por quilos de maquiagem – ele chegava a ficar três horas se preparando antes de poder entrar em cena – captura qualquer atenção sem o menor esforço. Ele é selvagem, uma força da natureza, e se em filmes mais oportunos esta entrega resultava em algo estrondoso, aqui se apaga como uma vela num bolo. O passado como boxeador, o crescente domínio da cidade, os negócios escusos, o suborno dos policiais: tudo é apenas tangenciado, oferecendo foco apenas à caça do título. E no papel de rato, ele pouco tem a oferecer.

Tudo começou a dar errado com Caça aos Gângsteres na metade de 2012, quando seu trailer estreou junto com o blockbuster Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Ao invés de aproveitar a boa recepção de público e de crítica da aventura do Homem-Morcego, ficou marcado pela violência exagerada que exibia após o massacre ocorrido nos Estados Unidos provocado por um homem que, durante a projeção, se levantou e começou a atirar a esmo, assassinando à sangue frio diversos dos presentes na audiência. Isso provocou uma reedição do filme até então inédito, eliminando algumas cenas e exigindo a refilmagem de outras. Este processo gerou um atraso de quase seis meses no seu lançamento, adiando para o início de 2013 sua estreia nos cinemas. Esforço inútil, assim como o filme, que faturou pouco mais do que a metade do seu custo total e passou despercebido, sem elogios ou grandes críticas. Muito barulho por nada, se não fosse de Shakespeare, seria um título muito mais apropriado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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