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Sinopse

Apresentador de um programa noturno de moda, Brüno é homossexual assumido e seu grande objetivo é tornar-se o austríaco mais conhecido desde Adolf Hitler. Para tanto, empreende várias viagens e incursões pelo mundo fashion.

Crítica

Muito se falou a respeito de Brüno, o novo trabalho de Sacha Baron Cohen, o mesmo homem por trás do absurdo Borat, de 2006. Este novo filme foi acusado de ser racista, inverossímil, gratuito, ridículo, abusivo, ousado, ofensivo, polêmico, vergonhoso, impróprio, debochado. E estão todos certos, porém incompletos. Afinal, é tudo isso e muito mais! Novamente sob direção de Larry Charles (que também esteve por trás de séries como SeinfeldEntourage e Segura a Onda), este é um legítimo “mockumentário”, ou seja, um falso documentário que acaba revelando muito mais verdades do que seus similares aparentemente honestos. E, driblando as regras do jogo – ou melhor ainda, usando-as a seu favor – Cohen conseguiu fazer um dos retratos mais cruéis e íntimos da nossa sociedade no que diz respeito ao preconceito, racismo e intolerância. E o melhor de tudo? Utilizando o mais inconsequente dos tipos como protagonista! Insólito e hilário.

Brüno, assim como Borat, é um personagem criado por Sacha Cohen no programa de humor que tinha na Inglaterra, algo mais ou menos nos moldes do nosso Casseta & Planeta – guardada as devidas proporções, é claro. Trata-se de um repórter assumidamente gay que apresenta um programa sobre moda da televisão austríaca – ele chega a afirmar, em determinado momento, que é o segundo maior ícone a sair da Áustria, após Hitler! Como se pode perceber, o rapaz pode ser acusado de tudo, menos de temer controvérsias. E isso ele provoca inúmeras, do início ao fim. Após uma desastrosa participação na Fashion Week de Milão, é expulso e perde o próprio show. Sem ter para onde ir, decide se mudar para Los Angeles e virar celebridade. Como? Primeiro atuando, depois entrevistando outras estrelas, e até se engajando em causas sociais. Sempre sem a menor noção do impacto que causa ao passar. Mas sempre registrando tudo com uma câmera invasiva e pra lá de indiscreta. Felizmente!

O mais espantoso de Brüno é que são poucos os que tinham consciência de que se tratava de um filme de aparente ficção em desenvolvimento. Cohen, Gustaf Hammarsten (um Jeff Daniels sueco) e outros dois ou três é que estavam realmente atuando – todos os demais são registrados agindo naturalmente, sem perceber no que estão envolvidos. E, dessa forma, acabam revelando muito mais do que obviamente gostariam – e entregando justamente o que os realizadores buscavam, uma verdade sem disfarces ou máscaras. Os pais que prometem emagrecer bebês apenas para participar de campanhas publicitárias, o pastor que acredita piamente ser possível acabar com a homossexualidade de um homem, o médium que jura estar se comunicando com alguém supostamente falecido – e que de fato está bem vivo! – a plateia ofendida de um programa de auditório e até participantes de um swing entre casais, são todos desnudados sem cerimônia ou piedade, confrontando o público com algo tão ou mais chocante do que a figura daquele que nos conduz nesta jornada.

Brüno provoca, incomoda e choca, mas, acima de tudo, faz pensar. Aquele na audiência que conseguir ir além do espanto inicial irá se deparar com algo brutalmente corajoso, revelando um foco muito mais apurado do que aquele exercitado em Borat, por exemplo. E, ao contrário de Michael Moore (com quem é constantemente comparado), Cohen faz proveito de si mesmo para comprovar suas teorias, deixando que imagens e situações provocadas quase que ao acaso falem por si só, sem grandes explicações. E, se após tudo isso, ainda restarem dúvidas, o testemunho final explicitado através das participações de algumas das maiores estrelas da música mundial – Bono, Chris Martin, Slash, Sting, Snoop Dogg e até Elton John! – deixa bem claro que a mensagem é pertinente. O importante é estar atento e saber do que está se rindo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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