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Sinopse

Holly Golightly é uma garota nova-iorquina decidida a se casar com um milionário. Perdida entre a inocência, ambição e futilidade, seus planos mudam quando conhece Paul Varjak, um jovem escritor bancado pela amante.

Crítica

A menina que toma café em frente à Tiffany, em Bonequinha de Luxo, é mais do que uma insone excêntrica, ou mesmo ricaça esnobe. Ela é Holly, garota de programa chique, bem vestida, sempre maquiada, fêmea fashion que desfila um sem fim de figurinos belíssimos que caem muito bem a seu corpo esbelto. Seu novo vizinho é um escritor em permanente crise criativa, sustentado por uma mulher insatisfeita sexualmente (ou afetivamente), e que não se importa em deixar trezentos dólares em sua cômoda sempre que volta para casa pela manhã. Ou seja, tanto Holly como seu vizinho Paul vendem seus corpos, ela em busca de glamour, este só possível por meio do dinheiro, e ele para obter a subsistência que seu outrora festejado talento não lhe garante mais. Blake Edwards, diretor famoso pela comédia, não centraliza a prostituição, evitando que a eventual discussão acerca da polêmica função tome de assalto a narrativa que, a bem da verdade, não se propõe a isto. Bonequinha de Luxo é um legítimo filme de amor, de encontros e desencontros.

Logo, Paul ama Holly, esta que ama as joias e o dinheiro fugidios de sua posse. A jovem segue sua busca por um par afortunado, por alguém que se permita entrar numa loja e desembolsar bem mais do que os dez dólares de que Paul dispõe. Ela luta contra seus sentimentos, apela ao radicalismo como subterfúgio, concomitantemente busca enterrar Lula Mae, seu “eu” anterior a vida de prostituição e glamour na Big Apple. Sua ambição é quase pueril, e um dos méritos, tanto da intérprete como do diretor que a guia, é o de trabalhar na elaboração de um personagem que, de tão humano e facetado, não se presta a enquadramentos morais. Ela sabe que ama Paul, mas prefere sofrer na riqueza a ser feliz na pobreza. É uma ambiciosa incorrigível esta Holly, ou quase, e nós embarcamos na dela.

Mesmo que, no frigir dos ovos, se valha do famigerado final feliz (que, diga-se, até cabe bem na história desta Cinderela moderna), Bonequinha de Luxo conserva um olhar amargo, principalmente nas observações que faz da alta sociedade nova-iorquina da época, alvo dos anseios de Holly. A festa em seu apartamento é a melhor prova deste olhar agridoce que o filme reserva à burguesia, com tipos fúteis divertindo-se a esmo, rindo e chorando com a mesma intensidade em frente ao espelho, embriagados por uma atmosfera que celebra a aparência e o que se pode maquiar. Edwards não nega sua graça ao habilmente inserir alívios cômicos, elementos que trazem interessante lividez à narrativa. Audrey Hepburn, por sua vez, brilha com a intensidade das grandes estrelas, agarra com paixão o papel da menina que busca a felicidade na lista dos homens mais ricos. Adaptado da obra do célebre Truman Capote, Bonequinha de Luxo é mais do que desfile de moda ou farol para fashionistas, como se convencionou colocar em relevo, é um exemplar bem bonito sobre aparências, máscaras e a busca pela realização.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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