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Sinopse

Hiroito, conhecido como Rei da Boca do Lixo, é um perigoso bandido que nasceu em São Paulo no final dos anos 1950, logo após o fechameto das zonas de prostituição do Bom Retiro.

Crítica

A lendária Boca do Lixo, em idos tempos reduto de cineastas, prostitutas, bandidos e outros tantos exemplares da fauna paulistana, teve um rei entre os anos 1950 e 1970: o irascível Hiroito de Moraes Joanides. Apaixonado desde cedo pela vida boêmia, afeito a noitadas com o meretrício local, Hiroito aos poucos conquistou o território pelo medo – muito de sua reputação advinha da facilidade com que disparava em concorrentes ou mesmo em quem fazia troça de sua inabilidade na sinuca – e arregimentou lucrativas negociatas baseadas em três pilares: mulheres, subornos e drogas.

Livremente inspirados no livro que o próprio Hiroito escreveu durante o cárcere, Flavio Frederico (também diretor) e Mariana Pamplona criaram o roteiro de Boca (exibido anteriormente com o nome de Boca do Lixo), cinebiografia que enfoca a desvairada ascensão de Hiroito ao topo da criminalidade local. Daniel de Oliveira encarna o protagonista, noutro trabalho notável da já vasta carreira cinematográfica que ostenta. Aqui e acolá surgem mais figurinhas carimbadas do cenário brasileiro, como Hermila Guedes, Leandra Leal e Milhem Cortaz. Todos muito bem, é bom que se diga, mesmo os de pequena participação.

Flávio Frederico exibe talento, faz de Boca um filme cheio de energia, personagens interessantes e sequências vigorosas. Porém, a utilização de saltos cronológicos constantes enfraquece ligeiramente o desenvolvimento narrativo. No afã de cobrir o maior período possível, sem para isso estender a duração final (provável amarra orçamentária), prejudica-se algumas passagens importantes, felizmente sem maiores danos ao todo, no geral, de feitura esmerada e habilidosa. Exemplo de qualidade, a bela fotografia de Adrian Teijido é construída com base em evocativos matizes esmaecidos.

Hiroito de Moraes Joanides foi figura excepcional, bandido à moda antiga, leitor voraz, deslumbrado com as possibilidades de ganho fácil através da exploração de mulheres e venda impune de drogas. Criou-se a lenda enquanto a Boca do Lixo era território sem lei, quando a polícia subornada fazia vista grossa à desordem instaurada por lá, muito porque dela (dessa “agitação”) advinham ganhos extras. Boca explora bem o mito, e a despeito do compasso acelerado, da trama lacunar e um tanto evasiva, tem personalidade suficiente para não cair no infértil terreno da banalidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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