Crítica

Não basta ser amado, é preciso ser rei. Com esta frase, Georges Duroy (Robert Pattinson) reconhece o objetivo que motiva suas ações inescrupulosas. Cem anos depois da Revolução, a França do final do século XIX tem a forma de uma nova sociedade: menos aristocrática, porém mais piegas, forrada pela vaidade ilimitada de uma burguesia ostensiva. Antes privilégio para poucos, a ideia de ascensão social virou um projeto de todos aqueles que beberam da fonte da igualdade.

De origem humilde, Duroy presenciou os caminhos do pai, do empenho no trabalho e da dedicação religiosa, não trazerem nada a ele ou à família. Desesperançado, o belo jovem percebe que o mundo moderno aceita outros subterfúgios para que se consiga viver bem e agora. Baseado no romance homônimo do escritor francês Guy de Maupassant (1850 -1893), a história de Bel Ami foi adaptada para o cinema pela menos duas vezes, em 1939 e 1949, e virou série de televisão, em produção franco-belga, em 2005. Em nenhuma das tentativas, a visão contundente e ácida presente na crítica do escritor foi feita jus pelas modestas repercussões.

A trama aparentemente complicada do filme encobre um plot simples. Georges é um alpinista social que descobre a entrada para a alta sociedade francesa: se por trás de todo grande homem há uma mulher, então para conquistá-lo, basta conquistá-la. Assim se desenvolvem os 102 minutos de projeção, alternando entre os flertes de olhares e caras que lhe garantem um emprego e os deslizes que lhe valem uma série de decepções. Neste meio, a potencial trama secundária – a invasão francesa no Marrocos – perde-se entre um catre e outro.

A direção em conjunto de dois novatos, Donnellan e Ormerod, saiu-se bem. Conseguiram levar o filme adiante sem oscilar entre altos e baixos. O que é quase um milagre se considerarmos a árdua tarefa que a também inexperiente roteirista Rachel Bannette teve para adaptar a obra de Maupassant. Na parte técnica, bastante correta, destacam-se a direção de arte e o figurino.

Com um elenco de nomes como o de Uma Thurman (Madeleine), a da sempre talentosíssima Kristin Scott Thomas (Virginie) e o de Christina Ricci (Clotilde), não é de estranhar o desnível técnico produzido pelo papel principal. Sim, justamente a Georges, a cargo da interpretação pouco expressiva e muito midiática de Pattinson. Faltou-lhe desenvoltura dramática, pois, de agora em diante, os filmes lhe exigirão mais do que o semblante de falso mistério desenvolvido na Saga Crepúsculo. O que não foi culpa sua, há de se ressaltar, foi o componente psicológico raso atribuído ao protagonista. Os poucos momentos no final em que tentam corrigir o problema, principalmente nas conversas com Clotilde, o recurso soa deslocado e equivocado.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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