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Sinopse

Com o objetivo de manipular Gotham City, um milionário tenta transformar o Pinguim, um ser deformado que fora abandonado ainda bebê nos esgotos, em prefeito da cidade. Como se isto não bastasse, surge a Mulher-Gato que, apesar de ser linda e sedutora, também tem dupla personalidade, em razão de problemas no passado. Ambos se tornam verdadeiros pesadelos para Batman.

Crítica

A assinatura do diretor Tim Burton surge logo no início de Batman: O Retorno. Afeito a tipos estranhos, gente posta à margem – seja por particularidades físicas ou mesmo comportamentos fora do “normal”, o regente dessa segunda incursão do Homem-Morcego pelas telonas, não por acaso, parte da construção do antagonista. Nascido diferente, irascível, Pinguim (Danny DeVito) fora largado à própria sorte num esgoto fétido por pais burgueses, incapazes de conviver com as idiossincrasias de seu primogênito, que, então, cresceu em meio aos dejetos de Gothan City, nutrido de raiva e um bom tanto de carência. Tim Burton parece deliciar-se legando ao bizarro vilão o papel de destaque.

Verdade seja dita, em Batman: O Retorno o herói é um coadjuvante de luxo, pois sutilmente (ou não tão assim) escanteado ante a proposta de investigação diretiva, muito mais preocupada com a dualidade dos vilões. O Batman encarnado por Michael Keaton é apenas uma antítese decorativa da desordem surgida para, paradoxalmente, purificar a cidade atolada em sujeira e gente corrupta. Pena as escolhas de Burton, potenciais alavancas, perderem força e esgotarem-se prematuramente. Que interessante caminho mostrar um homem (o empresário Max Shrek, vivido por Christopher Walken), dotado “apenas” de ganância e inteligência, controlando bandidos, a priori, incontroláveis. É claro, não fosse percorrido com tanta preguiça, entrecortado por um tipo de humor muitas vezes anêmico, aliás, presente em todo filme.

Batman: O Retorno remete a algumas das temáticas prediletas de Tim Burton e, infelizmente, também aos seus momentos menos inspirados. Tudo é muito falso: os cenários, as interpretações, e a própria encenação que poucas vezes transcende a observação satírica das coisas. Burton sai-se melhor quando estabelece contrapontos. É, ainda, versão jogada dos quadrinhos para as telas, sem muito senso de adaptação ou respeito às diferenças entre os meios. Claro, é proposital, mas não dá liga.

Por certo Batman: O Retorno guarda lá seu charme, e muito dele vem da deliciosa Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer e do inesquecível Pinguim vivido por Danny DeVito. Além disso, não dá para negar láureas a Tim Burton por sua fidelidade estilística, aqui certamente presente de maneira diluída, porém não tão imperceptível assim. Numa Gothan City essencialmente fake, filmada em estúdio, repleta de situações ligeiras e resvalões em assuntos que se melhor abordados confeririam profundidade ao espectro narrativo, nada mais natural a resultante ser mero entretenimento, divertido e agradável, porém, inofensivo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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