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Sinopse

Durante a Segunda Guerra Mundial, na França, um grupo de judeus americanos conhecidos como Bastardos espalha o terror entre o terceiro Reich. Ao mesmo tempo, Shosanna, uma judia que fugiu dos nazistas, planeja vingança quando um evento em seu cinema reunirá os líderes do partido.

Crítica

E quando todos achavam que Quentin Tarantino havia virado piada de si mesmo e que nunca conseguiria alcançar novamente a força de seus primeiros trabalhos, eis que ele volta à cena com Bastardos Inglórios! Mas se o novo longa oferece o melhor do diretor, por outro lado não consegue evitar algumas repetições de estilo. Afinal, não importa o gênero – comédia, drama, policial, terror ou, neste caso, guerra – ainda é um filme com a marca ‘Tarantino do início ao fim. E se isso é bom na medida em que os fãs encontrarão exatamente o que procuram, por outro lado não consegue ser tão inovador quanto seria saudável. Ao menos não diante olhos mais treinados.

Em diversas entrevistas Tarantino afirmou que começou este projeto com o desejo de “fazer um grande filme antes do final da década”. Porém, quando se deu conta, seu roteiro já passava da página 200 e nem se visualizava um the end próximo. Foi quando entrou em contato com o produtor Lawrence Bender, seu parceiro habitual, e o questionou sobre a possibilidade de uma estreia durante o Festival de Cannes. Faltavam apenas 10 meses, e a sorte foi lançada. Menos de um ano depois, estavam todos reunidos no maior festival de cinema de todo mundo, exibindo pela primeira vez aquele que tem tudo para se tornar o filme mais elogiado de sua carreira – ao menos até o momento.

Bastardos Inglórios parte de um pressuposto verídico para criar uma trama de ficção. Na França ocupada pela Alemanha no meio da Segunda Guerra Mundial, um grupo de americanos decide caçar nazistas, eliminando-os do modo mais cruel possível. É violência contra violência. Como aliados eles possuem alguns personagens importantes, como uma famosa atriz alemã e um crítico inglês. Ou seja, como se pode perceber, a brincadeira do diretor e roteirista não se restringe apenas a uma revisão histórica, mas também à própria sétima arte e à cultura pop como um todo. O plano que eles montam aproveita a première de um filme alemão narrando feitos de um herói de guerra. Isso irá acontecer numa sala de cinema em Paris. Lá eles terão liberdade para agir, e, com sorte, atingirão até mesmo o Führer, Adolf Hitler, colocando um ponto final no embate militar. Uma ilusão que, ao contrário do recente Operação Valquíria (2008), não possui comprometimento algum com os fatos tais quais eles realmente aconteceram. Assim, qualquer conclusão pode ser possível.

Um dos grandes acertos de Bastardos Inglórios é conseguir escapar da mesmice de tantas outras produções que possuem esse período histórico como pano de fundo. Com mais ritmo e dinamismo, a fluência da ação nos envolve e o suspense encontra campo propício para se desenvolver. Os diálogos, sempre um ponto forte nos roteiros de Tarantino, também são geniais, e somente os mais antenados não deixarão passar uma ou outra brincadeira, de tão seguidas que são. Quanto ao elenco, os méritos são fartos. Brad Pitt, liderando os ‘bastardos’, evoca até Marlon Brando em sua composição, agindo com simpatia e dedicação. Os alemães Til Schweiger (Atômica, 2017), Diane Kruger e Daniel Brühl são bons acréscimos a um time internacional, que conta ainda com a ótima francesa Mélanie Laurent e os americanos Eli Roth e até Mike Myers. Mas nenhum é mais impressionante do que o austríaco Christoph Waltz. No papel do vilão irascível e assustadoramente verdadeiro, ele não só ganhou o prêmio de Melhor Interpretação Masculina em Cannes como já desponta como um dos favoritos ao Oscar do próximo ano.

Impressionante sucesso de bilheteria – é o filme assinado por Tarantino que mais arrecadou em toda sua carreira – faturou mais de US$ 300 milhões em todo o mundo (US$ 120 milhões somente nos EUA) e caiu nas graças da crítica especializada, seja pelo enredo muito bem amarrado, pela excelente química entre todos os atores ou até mesmo pelo próprio diretor, que volta aos holofotes em grande estilo. Mesmo assim, é quase inevitável um sentimento de ‘já vi isso antes, e melhor’. Quem não conhece o cineasta tem, aqui, uma ótima porta de entrada a um universo ousado, encantador, irreverente e cheio de grandes sacadas. Porém os familiarizados com este estilo não irão se decepcionar, mas também não deverão encontrar tantos motivos para surpreender. Bastardos Inglórios é, sem sombra de dúvida, um grande filme. Talvez não o melhor do cineasta, mas isso se deve mais aos altos padrões por ele mesmo estabelecidos, e menos aos méritos intrínsecos dessa obra memorável.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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