Crítica


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Sinopse

Os momentos de celebração viram âncoras da memória. Graça tem mais de 300 fitas com imagens de festa.

Crítica

A narração em off associada às imagens das festas de aniversário do cineasta Frederico Pinto quando criança, entre outras gravações de momentos familiares, deflagra, num primeiro instante, a pessoalidade de Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas. Mas mesmo quando o filme salta a outros relatos, ou seja, a histórias alheias, há traços de intimidade, como se o criador se apropriasse da memória de outrem para construir um painel sobre suas próprias lembranças. O tom confessional, e até certo ponto cômico, dos comentários que ilustram o material familiar, logo dá lugar a outras vozes e imagens.

Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas é um filme cuja base está na construção da memória via momentos de celebração. Vemos Graça, uma mulher que tem mais de 300 fitas com imagens de festas. Por outro lado, a comemoração dos 80 anos de Leda reúne seus seis filhos novamente, após 25 anos, e nos traz fotos e vídeos como elementos agregadores, símbolos de um afeto que o tempo desgastou, modificou. Os 15 anos da filha de Cláudia é, de outra maneira, um resgate da própria juventude dessa mãe que não teve ocasião similar. Já Dione não tinha família, portanto seu sonho de comemorar aniversários passava também pela necessidade de ter de fato uma família.

Em princípio, os fragmentos de Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas são quase autônomos, pois sua sucessão não parece resultar em nada muito concreto. Ora, mas a memória, núcleo do filme, não é ela própria concreta. É preciso, então, tempo para depurar as aproximações, a ambiguidade de relatos festivos que, no fundo, expressam doses de melancolia por trás da necessidade de comemorar. O clima moroso, porém, dificulta a identificação necessária para encontrarmos valor imediato em meio ao conjunto que, em princípio, não parece mais que um quebra-cabeças incompleto. A incompletude, contudo, é deliberada, mas soa às vezes como desacerto, sem assim atingir o efeito desejado.

Contudo, o que mais depõe contra Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas é a reiteração, a necessidade de, na tentativa de construir uma narrativa porosa, exagerar na repetição de procedimentos e no alongamento de certos segmentos. Ainda que acompanhemos na tela algo de sensibilidade inquestionável, fica a sensação de que abraçar o risco com mais coragem faria muito bem ao filme como expressão das complexidades inerentes às nossas lembranças, elas que atuam sobre nossa personalidade presente e, muito provável, formem boa parte de nosso ser futuro. Mesmo assim, há em Balões, Lembranças e Pedaços de Nossas Vidas clara intenção de refletir partindo do pessoal àquilo que nos aproxima no geral. Não é pouca coisa, buscar já é um caminho.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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