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Sinopse

Por conta de uma avançada tecnologia, Cal Lynch consegue reviver as aventuras do seu ancestral espanhol, um guerreiro muito habilidoso. E ele vai usar toda essa expertise para combater os Templários na atualidade.

Crítica

Michael Fassbender pode, atualmente, ser um ator cultuado, dono de duas indicações ao Oscar (12 Anos de Escravidão, 2013, e Steve Jobs, 2015) e injustiçado em outras ocasiões (Shame, 2011, Jane Eyre, 2011, e Um Método Perigoso, 2011), por exemplo. Mas é importante perceber o quão calculada tem sido a construção da carreira deste astro nascido na Alemanha mas, hoje, já dono de repercussão internacional. Afinal, para cada título de respeito como os aqui citados, há diversas obras de apelo mais popular, como X-Men: Primeira Classe (2011) e suas continuações, 300 (2006) e Prometheus (2012), por exemplo. Por isso, para os donos de uma visão mais ampla, não causa surpresa que, após o shakespeariano Macbeth: Ambição e Guerra (2015), ele tenha se reunido mais uma vez ao diretor Justin Kurzel e à atriz Marion Cotillard para este Assassin’s Creed, obra que é quase um ‘lado B’ daquela que resultou da primeira incursão do trio.

E por quê? Afinal, Macbeth: Ambição e Guerra e Assassin’s Creed, num primeiro momento, não poderiam ser mais diferentes – uma se baseia em um texto clássico de um dos maiores autores de todos os tempos, enquanto que o segundo é a adaptação de um famoso videogame. Um olhar mais apurado, no entanto, revelam inegáveis proximidades. Ambas pretendem, num primeiro momento, serem mais do que são. São ousadas esteticamente, donas de grande apuro visual. No entanto, se na primeira a força de suas palavras – já existentes no texto original – era suficiente para elevá-la da vala comum, aqui falta justamente esta substância interna que tire o conjunto da mesmice, revelando-se ineficaz para ir além da mediocridade inata ao gênero.

Pois Assassin’s Creed faz parte de uma surpreendente extensa – Hollywood não desiste tão fácil – linhagem de longas baseados em jogos eletrônicos. No entanto, nenhum conseguiu, até hoje, superar o óbvio que tanto atrai os aficionados a este tipo de atividade: se no console o destino dos personagens está nas mãos de cada jogador e é esta interatividade que faz diferença, na tela grande tal livre arbítrio inexiste, restando ao fã apenas acompanhar à distância as decisões de outros, concordando – ou não – com os rumos de cada ação. Não importam aqui os méritos estéticos, a qualidade das atuações ou a relevância de cada palavra dita: a fonte é que está corrompida.

Sendo assim, pouco parece importar ao espectador o destino de Cal Lynch (Fassbender), um assassino condenado à morte que, no entanto, é salvo no momento da execução por uma empresa dona de motivos até então ocultos. Liderada por uma sociedade secreta ligada à Ordem dos Templários, eles desejam conectá-lo a uma máquina desenvolvida especialmente para que, através dela, ele possa viajar no tempo e no espaço através de seus antepassados, revivendo situações e alterando graves e marcantes episódios. No caso, querem colocá-lo no lugar de Aguillar, um destemido aventureiro que, durante a Inquisição Espanhola do final do século XV, foi responsável por impor uma drástica derrocada aos próprios Templários. Acreditam ter chegado o momento de, mesmo mais de cinco séculos depois, dar o devido troco. Mas Cal não será tão facilmente manipulável quanto se poderia esperar.

Marion Cotillard e Jeremy Irons, dois vencedores do Oscar, são os responsáveis por esse plano mirabolante. Ela é maquiavélica, ele é ainda pior. Filha dele e pai dela, estão aparentemente unidos sob um único objetivo, mas ambições contrárias poderão colocar tudo a perder. Principalmente quando pensam ter sob o controle alguém tão intempestivo. Há muito, portanto, por trás das motivações de cada um destes personagens. E nem vamos detalhar as relações entre esses e outros tipos interessantes, como o pai do protagonista (Brendan Gleeson), a presidente da organização (Charlotte Rampling) ou o outro membro da ordem de assassinos (Michael K. Williams). E o que dizer de Maria (Ariane Labed), a principal companheira de Aguillar, tão mortal quanto inexplicável? Resta à Fassbender, dividindo-se entre astro, ator e produtor, bancar o super-herói entre saltos de dublês e posturas atléticas sem camisa. Enfim, há muito em cena, e pouco no que se concentrar. A impressão é que preocupou-se tanto em agradar aos fãs mais aguerridos, que esqueceu-se de entregar uma história universal, acessível e que servisse de porta de entrada para esse universo. Tem-se, assim, algo de horizonte restrito, que acaba não servindo nem a um, muito menos aos outros.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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