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Sinopse

Os quatro répteis mutantes lutadores de artes marciais voltam para salvar Nova York das mãos de perigosos bandidos. Dessa vez, são dois mutantes como eles que lideram uma gangue com planos megalomaníacos, aliados a um antigo inimigo, colocando em perigo a vida da protegida do grupo, a jornalista April.

Crítica

A reação inicial de muitos pode ser, no mínimo, contraditória. Afinal, como tornar crível uma trama liderada por quatro tartarugas gigantes em formato humanoide que possuem como mentor um rato mestre em karatê (e, assim como elas, também com proporções humanas)? Porém, é preciso um pouco de autocrítica. Afinal, qual a diferença destes personagens para tantos outros que regularmente tem dominado as telas de todo o mundo de uns tempos para cá? Heróis alienígenas, seres superpoderosos, animações tão verossímeis que chegam a ser reais. Pois é dentro deste contexto que As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras deve percebido: mais como uma alegoria para algo maior e menos como uma bobagem descartável como tantas outras. Enfim, é preciso ir além do óbvio. E com uma narrativa dinâmica e muita competência, tal efeito é alcançado.

Os elementos estão todos no lugar, como já era de se esperar diante uma produção desta magnitude – com orçamento de US$ 135 milhões, este é o sexto longa da franquia As Tartarugas Ninja, entre a trilogia original, uma animação e o episódio anterior desta nova fase. Os quatro lutadores mascarados – aliás, o porquê de taparem seus rostos é mais uma brincadeira, funcionando melhor para o público identificá-los e menos para algo lógico dentro da trama – possuem identidades bem definidas: Leonardo é o líder, Rafael é a força bruta, Donatello é o gênio e Michelangelo, o inconsequente. Formam uma família reunida pelo sábio Splinter (voz de Tony Shalhoub), que lhes dá a voz da razão: como agirem, o que devem fazer, o que precisam preservar. O toque feminino vem da jornalista April O’Neill (Megan Fox, deslumbrante), uma das únicas que sabem sobre eles. Afinal, eles podem até já ter salvado o mundo algumas vezes, mas seguem vivendo nas sombras, com medo do que possa lhes acontecer caso suas existências se tornem públicas.

Quando o Destruidor (Brian Tee, de Wolverine: Imortal, 2013), o maior inimigo deles, consegue fugir da prisão e se une ao galáctico Krang – um ser extraterrestre de poder incalculável – e ao Dr. Baxter Stockman (Tyler Perry, deixando de lado as fantasias as quais está acostumado e investindo da criação de um tipo próprio), pode se esperar pelo inimaginável. O desejo dos vilões não foge do usual – querem dominar o mundo – mas o modo como escolhem fazer isso é um tanto curioso: através de uma fórmula que irá liberar genes ancestrais em cada ser, ou seja, homens se transformarão em animais selvagens e racionais – como os capangas Rocksteady e Bebop – mas o mesmo pode funcionar ao contrário com as Tartarugas. Afinal, elas continuariam se escondendo, caso tivessem a chance de serem ‘normais’, ou seja, se lhes fosse possível assumir uma aparência humana?

Michael Bay (diretor da milionária saga Transformers) e seus colegas Andrew Form e Bradley Fuller (conhecidos por refilmarem filmes de terror clássicos, como O Massacre da Serra Elétrica, 2003, e Sexta-Feira 13, 2009) entregaram a direção desta sequência para o novato Dave Green (cujo único crédito anterior é o infantil Terra para Echo, 2014). Mas este não esteve sozinho, pois continuaram no time, além de Fox – com todos os biquinhos e poses a que tem direito – também o diretor de fotografia brasileiro Lula Carvalho (mostrando que seu talento é, mesmo, internacional), responsável pelas várias e impressionantes tomadas da história. Assim, Fora das Sombras se mostra envolvente do início ao fim, transitando por clichês comum ao gênero, porém sem desgastá-los em fórmulas sem imaginação.

Outra boa surpresa é a adição ao elenco do galã Stephen Amell, que mostra estar pronto para deixar para trás seus anos de televisão como o herói Arrow (2012-) para investir com mais determinação na tela grande. Will Arnett convence com o pouco que lhe oferecem, e a única lástima parece ser mesmo não haver mais espaço para a ótima Laura Linney, a mais deslocada do elenco – basta observar a filmografia da atriz indicada três vezes ao Oscar para questionar o que ela está fazendo aqui, além de oferecer m prestígio diferenciado à produção. Enfim, As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras é feito para um público família em busca de diversão despreocupada, combinando referências de títulos tão diversos quanto 007 contra Spectre (2015), Os Vingadores (2012) e até mesmo a saga X-Men, além de um toque brasileiro que deixará as sessões locais ainda mais curiosas. Sem esperar nada além do que um bom e eficiente passatempo, tem-se aqui um tratamento adequado para personagens adorados pelos fãs e que são capazes de entreter na medida certa, sem exageros e nem maiores pretensões. Ou seja, no tamanho certo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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