Crítica

São vários os obstáculos que dificultam a busca de Mark O’Brien por um objetivo aparentemente simples: iniciar sua vida sexual. Com 36 anos, sobrevivente de poliomielite e dependente de um pulmão artificial, Mark é incapaz de mover seu corpo abaixo do pescoço. Como se tais limitações não fossem suficientemente complexas para sua busca sexual, ele também é um católico honesto que segue as práticas ditadas pela religião, que o indica a não fazer sexo fora de um casamento.

Tragicômico para a ficção, o enredo de As Sessões é baseado na história de vida de um Mark O’Brien real, que ficou conhecido após a publicação de um artigo para a revista norte-americana The Sun intitulado On Seeing a Sex Surrogate – algo como “sobre sair com uma substituta do sexo”. Com roteiro e direção de Ben Lewin, o filme aborda o complicado tema com leveza, descontração e bom humor, tornando a delicada necessidade de O’Brien numa jornada que deve fazer muitos questionarem suas próprias limitações.

John Hawkes, que vem provando sua capacidade em filmes como Inverno da Alma (2010) e Martha Marcy May Marlene (2011), é o maior trunfo de As Sessões. Sua vibrante interpretação vai muito além das complexidades físicas e emocionais de O’Brien, e insere o ator no rol dos laureáveis da atual temporada de prêmios. Sua dedicação em muito se assemelha ao desempenho de Daniel Day-Lewis em Meu Pé Esquerdo (1989), que acidentalmente quebrou uma costela ao se recusar sair de seu personagem paralítico. Hawkes também teve complicações físicas reais ao utilizar uma bola de futebol para curvar sua espinha, intencionado a assemelhar sua postura a do verdadeiro O’Brien – o que fez com que alguns de seus órgãos migrassem e limitassem sua movimentação.

Para o papel da terapeuta que resolve na prática o problema sexual de seus pacientes, Lewin escalou Helen Hunt. Bonita e madura, Hunt apresenta uma das melhores atuações de sua monocórdica carreira graças à sua entrega ao papel e coragem, que a permitem até mesmo a protagonizar mais de uma cena com nu frontal – algo praticamente impensável para uma estrela hollywoodiana. Com William H. Macy como o padre confidente de O’Brien e Moon Bloodgood na pele de Vera, sua assistente, o filme ganha ao enriquecer seu desenvolvimento com personagens interessantes e divertidos, que equilibram a carga dramática indissociável de uma história como a proposta em As Sessões.

Por tratar o sexo de maneira realista e sem temores, Ben Lewin atinge uma dramaticidade elogiável e pouco apreciada até mesmo no cinema independente contemporâneo. Seu filme é um relato sincero sobre a sexualidade de deficientes físicos e carrega o mesmo espírito de Hasta La Vista (2011), produção belga de Geoffrey Enthoven que possui temática semelhante. Inteligente e pontualmente engraçado, As Sessões faz o gênero feel good movie e propõe questionamentos sem soar moralista ou politicamente correto, o que já são motivos suficientes para garantir o ingresso.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
avatar

Últimos artigos deConrado Heoli (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *