Crítica

Talvez nos Estados Unidos seja mais raro encontrar uma boa diretora de cinema – afinal, somente agora, 82 anos depois, o Oscar foi premiar uma cineasta! Mas no Brasil o cenário é diferente. Há ótimas realizadoras por aqui, e um belo exemplo é Laís Bodanzky, que com o novo As Melhores Coisas do Mundo mostra mais uma vez seu impressionante talento. Depois do simpático e carinhoso Chega de Saudade, ela retoma o universo jovem visto em Bicho de Sete Cabeças, que marcou sua estreia em longa-metragem. Só que desta vez a intensidade é distribuída em vários dramas menores – mas não por isso menos interessantes. É um filme mais maduro, mesmo que isso possa soar contraditório, visto o tema em debate. E também mais acessível.

Baseado na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, As Melhores Coisas do Mundo tem como ponto de vista o dia-a-dia do personagem principal, um adolescente que atravessa um momento de crise: seus pais estão se separando, o irmão mais velho está no meio de uma paixão avassaladora e ele próprio está caído de amores por uma garota que nem sabe que ele existe. Neste meio tempo, outros dramas típicos da idade vão cruzando seu caminho, como a descoberta da sexualidade, preconceitos, a verdadeira amizade, decisões profissionais, fidelidade e amor. Tudo embalado por um ritmo bastante dinâmico, com uma trilha sonora envolvente e um texto absurdamente fluente e naturalista.

A escolha das palavras que dão o tom em As Melhores Coisas do Mundo foi responsabilidade do parceiro – na vida e no trabalho – Luis Bolognesi, que colabora com Bodanzky desde o seu primeiro trabalho. Apesar de partirem da inspiração literária, os dois não se acomodaram e foram falar com o grupo que desejavam enfocar. Assim, visitaram diversas escolas da rede particular de São Paulo para melhor entendê-los, descobrir como falam, se comunicam, se relacionam. O melhor é que tudo isso é possível ser visto na tela, como se o espectador fosse mais um da turma. Dessa forma, tudo soa ainda mais verdadeiro. E este mérito é inegável. Se a diretora começou sua carreira na tela grande mostrando o inferno das drogas e como esse problema pode ser ainda maior numa família sem diálogo, seu segundo passo foi noutro sentido, elencando as alegrias e as tristezas da terceira idade. Agora, no entanto, ela parte de um período de formação para discutir as decisões que repercutem durante uma vida inteira. O resultado é ainda mais surpreendente.

Outro ponto positivo forte deste trabalho é o elenco, totalmente entregue à história. Dentre os protagonistas, o nome mais conhecido é o de Fiuk, filho do cantor Fábio Jr. e estrela da Rede Globo. Ele é também responsável por algumas das cenas mais pesadas dramaticamente, e se sai muito bem. Os demais são jovens selecionados através de testes, que felizmente aparecem em cena muito à vontade. Francisco Miguez, que faz o personagem principal, está particularmente convincente. Causam bons resultados também as participações especiais de atores mais tarimbados, como Denise Fraga (excelente em um personagem sério e profundo), Paulo Vilhena e Caio Blat. Mas As Melhores Coisas do Mundo não é bom somente por um quesito ou outro. É o seu todo que conquista, mostrando que cinema nacional pode, sim, entreter e fazer pensar ao mesmo tempo, sem ser didático ou cansativo. Aliás, muito pelo contrário. Temos aqui algo destinado aos mais diversos públicos. E é por eles que merece ser descoberto.

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