Crítica

É quase uma piada de mau gosto esse As Duas Faces da Lei. Amparado nas presenças daqueles que já foram considerados dois dos maiores atores norte-americanos vivos, Al Pacino e Robert De Niro, este filme é um projeto menor dentro das premiadas carreiras de ambos, e certamente seria um produto exibido apenas em dvd ou na televisão caso quaisquer outros atores fossem escalados para os papéis principais. Afinal, o enredo é absurdamente fraco, desprovido de maiores atrações ou grandes reviravoltas. Tudo é extremamente óbvio, e talvez o único motivo que nos faça permanecer dentro da sala de exibição até o final é uma leve insegurança – afinal, como podemos saber tudo o que irá acontecer antes da meia hora inicial da trama?

Mas nossos medos se confirmam, e é exatamente isso que acontece: o que se desenha logo no começo a cada instante se confirma mais, até a conclusão que não surpreende ninguém. Senão, vejamos: De Niro e Pacino, um o melhor amigo do outro, aparecem como policiais um tanto desiludidos com a profissão. Estão perseguindo um serial killer que só elimina bandidos que não foram presos por irregularidades nos julgamentos. A suspeita é de que seja um policial que esteja cometendo os assassinatos – e logo um dos protagonistas passa a ser investigado pelos colegas. Só que no início já vemos um vídeo dele confessando tudo – obviamente coagido ou para proteger alguém. Quem você acha que é o verdadeiro culpado?

Talvez o pior mesmo de As Duas Faces da Lei seja, por mais incrível que pareça, aquele que deveria ser seu maior trunfo: a união de De Niro e Pacino. Este é o terceiro filme dos dois juntos: antes estrelaram O Poderoso Chefão 2 (1974), em que não contracenavam, pois apareciam em épocas diferentes da história (um era o pai do outro), e Fogo Contra Fogo (1995), em que dividiam apenas um única cena em um longa de quase 3 horas de duração! Assim, é claro que havia muita expectativa num projeto que os colocava lado a lado quase o tempo todo. E todo mundo parecia motivado com a idéia – menos eles. Afinal, tanto um quanto o outro aparece em ponto morto, como se estivessem ali apenas por uma total falta de algo melhor a fazer. Ambos estão interpretando a si mesmos, sem nenhum brilho no olhar ou nuance. Passamos 100 minutos observando Robert De Niro e Al Pacino nos seus estágios mais preguiçosos possíveis, tão desinteressados e desiludidos quanto nós, do lado de cá da tela.

Fracasso de público e de crítica, As Duas Faces da Lei arrecadou nos Estados Unidos pouco mais do que a metade do seu orçamento total, que foi de inacreditáveis 60 milhões de dólares. Na direção está o fraco e medíocre Jon Avnet, que já havia colocado Pacino numa fria antes em 88 Minutos (2007), outra porcaria que nem chegou a ser lançado nos cinemas aqui no Brasil. De resto há um festival de clichês, como a dupla de oficiais mais jovens (John Leguizamo e Donnie Wahlberg, nem tão novatos assim), a mocinha rebelde (Carla Gugino, de Spin City) e até duas surpresas ocasionais, as presenças do rapper 50 Cent (cada vez mais investindo na carreira de ator) e do veterano de produções B Brian Dennehy, que vem sendo redescoberto nos últimos anos em trabalhos na televisão (ganhou até um Globo de Ouro por A Morte do Caixeiro Viajante, em 2000). De resto é tudo uma grande piada sem graça, que provoca duplos constrangimentos. E a única dúvida que nos resta no final das contas é saber em qual dos dois lados da tela grande este mal estar é maior!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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