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Sinopse

Chamados de volta à aventura, os dois irmãos Pevensie mais jovens, Lucy e Edmund, acabam levando consigo o primo Eustace para Nárnia. Lá, eles descobrem que precisam ajudar o príncipe Caspian a encontrar uns exploradores há muitos anos perdidos nas terras de Além-Mar. Isso antes que uma misteriosa e sinistra força das trevas tome por completo o coração dos narnianos.

Crítica

Apesar de possuírem um claro e perigoso subtexto religioso, os livros escritos por C.S. Lewis sobre o mundo encantado de Nárnia conseguem evocar uma eficiente áurea de fantasia e aconchegante mistério que, sozinhas, são características o suficiente para magnetizar o leitor através das aventuras das crianças que infalivelmente se perdem por lá. Algo que os filmes escritos por Christopher Markus e Stephen McFeely conseguiram mimetizar apenas momentaneamente ao início de As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005). E se nem em As Crônicas de Nárnia: O Príncipe Caspian (2009), que possui um arco mais convencional, a dupla foi capaz de fugir de uma estrutura enfadonhamente aborrecida, seu trabalho ao adaptar As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada, o mais burocrático dos volumes de Lewis, é nada menos do que irritante.

Acontece que A Viagem do Peregrino da Alvorada trata de uma jornada ao qual se juntam Edmundo (Skandar Keynes) e Lucy Pevensie (Georgie Henley), mais uma vez levados ao mundo mágico que descobriram quando crianças, dessa vez indo junto o primo mimado Eustáquio (Will Poulter). O trio é resgatado do mar e colocado a bordo do Peregrino da Alvorada, um navio comandado por Caspian (Ben Barnes) e que está em busca de sete importantes lordes que se perderam em uma ilha distante e cujo paradeiro pode guardar o segredo para salvar Nárnia de uma misteriosa força maligna que os tem cercado.

A partir daí, A Viagem do Peregrino da Alvorada se prende ao seu próprio conteúdo, ao invés de domá-lo. E cada parada da tripulação é seguida por uma pequena aventura em um lugar completamente diferente do anterior. De uma ilha com um tesouro amaldiçoado, a outra, em que criaturas de um pé só obedecem a um mestre invisível, Lucy, Edmundo e Eustáquio parecem passar pelas mais excitantes emoções. Não que seja possível vivenciar a mesma sensação com eles, uma vez que Markus e McFeely estão menos preocupados em escrever um roteiro coeso do que em inserir frases de efeito como: “para derrotar a escuridão lá fora, você precisa vencer aquela dentro de você”. Mas conseguem fazer um trabalho ainda pior ao tentarem se manter fieis ao material de origem, quando decidem reciclar as ideias cristãs de Lewis. Anulando, então, qualquer poder de instigar a imaginação que o projeto poderia possuir, enquanto paralelamente tornam a obra excludente. É certo que os filmes anteriores haviam flertado com passagens bíblicas, e o sacrifício e a ressurreição milagrosa de um personagem correspondia anteriormente por momento marcante. Porém, aqui, somos arrastados por situações abomináveis, como aquela em que Aslan (voz de Liam Neeson) confidencia a Lucy, após literalmente abrir uma passagem no mar (Moisés, ficou claro?): “no seu mundo eu tenho outro nome, você deve aprender a me conhecer por ele, esse é o próprio motivo de ter vindo parar aqui”. Traduzindo, “se você não sair dessa aventura um cristão, então não valeu de nada!”, créditos.

Além do mais, sem a Disney por trás da produção, já que o estúdio abandonou o projeto depois do fracasso de bilheteria do longa anterior, até mesmo a parte técnica se torna irregular. Por exemplo, os efeitos digitais que constroem a tal força maligna, uma espécie de névoa verde, são artificiais de uma forma tão destoante que por vezes é preciso questionar se foram de fato finalizados antes de serem inseridos na versão final. Enquanto isso, mesmo quando o CGI funciona, serve a sequências de ação desinteressantes que não são capazes de invocar a mínima tensão, já que (1) sabemos que nenhuma das crianças irá se machucar, e (2) porque não nos importamos realmente com aqueles seres unidimensionais, ou pior, com aqueles que além disso, ainda são criações digitais duvidosas.

Tentando copiar exatamente a fórmula dos outros dois filmes, A Viagem do Peregrino da Alvorada ainda tenta emplacar mais uma canção que se equilibra entre o melancólico e o festivo, enquanto também faz um esforço enorme para trazer de volta o único personagem que realmente funcionou em toda a franquia, a Feiticeira Branca de Tilda Swinton. Entretanto, seu único feito é enterrar de vez as aventuras dos irmãos Pevensie. E se algum estúdio quiser trazer de volta os contos de Lewis para as telonas, sugiro que se concentrem em algumas das mais belas e menos religiosas passagens do mundo Narniano, como O Sobrinho do Mago, ou O Cavalo e Seu Menino, que certamente, por pior dirigidas que pudessem ser, ainda renderiam obras mais fascinantes do que... isso aqui.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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