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Sinopse

Daniel tem 15 anos e vive com a família numa pequena cidade. Ele namora Mim, porém o relacionamento jamais o deixa seguro. Ela é uma garota autônoma, tem uma banda própria e está em dúvida se deseja ser namorada de alguém. Os dois e Lucas, o melhor amigo de Daniel, estudam no Colégio Santa Bárbara. Lá Lucas é acusado de ter cometido um roubo, o que faz com que Daniel e Mim briguem.

Crítica

É em Pedra Grande, pacata cidade do interior do Rio Grande do Sul, que se desenvolve a aventura de Antes que o mundo acabe, primeiro longa-metragem da diretora gaúcha Ana Luiza Azevedo. O filme de Ana se insere em um momento raro do cinema nacional, cuja atenção está voltada ao público adolescente, normalmente esquecido entre as produções infantis e a temática adulta. As boas bilheterias de títulos como As Melhores Coisas do Mundo (2010), Desenrola (2011) e o excelente Os Famosos e os Duendes da Morte (2009) comprovam claramente como o filão conta não apenas com potenciais espectadores. mas, principalmente, com uma riqueza de material pouco explorada nas telas do país.

Escrita pela própria diretora em parceria com Jorge Furtado, Paulo Halm e Giba Assis Brasil, a história concentra-se na relação de três adolescentes durante o último ano do colégio. Os melhores amigos Daniel (Pedro Tergolina) e Lucas (Eduardo Cardoso) têm muito em comum, inclusive a disputada paixão pelo coração da jovem Mim (Bianca Menti).

A trama convencional, contudo, não impede – e basta nos lembrarmos do clássico Jules e Jim (1962) – a construção de uma história sensível e envolvente. Assim como o diretor francês, Ana demonstra a virtude de conduzir a mise-em-scène de seus atores com a naturalidade necessária para aproximar os personagens do espectador. Neste sentido, colocar a narração através do psicológico da doce Maria Clara (Caroline Guedes), irmã mais nova de Daniel, consolidou-se como um grande acerto. Mesmo com o avanço do enredo e a quebra da harmonia inicial, dificilmente seria possível tomar partido de um dos garotos ou sentir verdadeiro desafeto por Mim.

O trio de jovens atores, todos em seu primeiro trabalho de fôlego frente às câmeras, responde muito bem à experiência. Chama atenção a homogeneidade no tom das atuações, algo especialmente difícil. Atuam no mesmo registro e com semelhante desenvoltura, a pequena Maria Clara e o experiente Murilo Grossi. .

Reflexo do tema sutil, a aparente ingenuidade do filme não afeta sua estrutura profunda. Nela, Daniel é o centro dos acontecimentos. Se por um lado, ao perceber que perde gradualmente o afeto de Mim para o melhor amigo, age por ciúmes e prejudica Lucas na escola, por outro lado descortina-se a presença de seu pai biológico, um fotógrafo que, após quinze anos, resolve aparecer para acertar contas dos motivos que o fizeram abrir mão da paixão pessoal, a mãe de Daniel, pelo ideal profissional – mudar o mundo empunhando uma câmera.

Perfeitamente encadeado junto à direção e ao roteiro, a edição de Giba Assis Brasil espelha o espírito da trama. Assim, o ritmo jovem permite o equilíbrio entre os momentos de êxtase e as cenas dramáticas. O fio condutor da história funciona tão bem que mesmo cenas acessórias, como as de Maria Clara adquirindo seus pássaros, não enfraquecem o eixo principal, mas, bem pelo contrário, surgem como contraponto necessário a uma possível sobrecarga do foco narrativo.

Antes que o Mundo Acabe é um filme que não tem idade. Os jovens se reconhecem prontamente diante das angústias e das questões próprios do período. Os adultos, por sua vez, rememoram aquilo que lhes foi ou deveria ter sido passado. As particularidades vividas no interior, escolhidas com propriedade, não amarram o longa em questões pontuais, mas desenvolvem e universalizam o melhor valor humano – o amor pela descoberta.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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