Crítica

Na véspera de seu aniversário de 17 anos, a jovem Mari (Sandra Cassell) deseja uma noite divertida com a amiga Phyllis (Lucy Grantham). Um show de rock está nos planos, mesmo que seus pais, Estelle (Cynthia Carr) e John (Gaylord St. James), não enxerguem com bons olhos essa amizade da filha. Mal eles sabem que esta pretensa má companhia não seria o maior de seus problemas. A caminho do show, as amigas tentam descolar um pouco de maconha e são levadas ao encontro de uma gangue de facínoras comandados pelo perigoso Krug (David A. Hess). Violentadas psicológica e fisicamente, as garotas sofrerão como nunca nas mãos daqueles sádicos. Em poucas linhas, isto é Aniversário Macabro, o primeiro filme dirigido por Wes Craven.

O time envolvido neste longa-metragem é de respeito no gênero terror. Ou ao menos seria num futuro bem próximo. A produção é de Sean S. Cunningham, que viria a dirigir em 1980 o primeiro Sexta-Feira 13. O então novato Steve Miner, assistente de edição e produção deste Aniversário Macabro, comandaria os primeiros filmes com a presença assassina de Jason em Sexta-Feira 13: Parte 2 (1981) e Sexta-Feira 13: Parte 3 (1982) e, bem depois, o irregular retorno de Michael Myers em Halloween: H20 (1998). E Craven, claro, criaria em 1984 o vilão Freddy Krueger de A Hora do Pesadelo. Em Aniversário Macabro, todos estes talentos estavam em formação e, talvez por isso, não economizavam na violência e na crueza de seus trabalhos.

Motivo de controvérsia à época do lançamento e banido em diversos países, Aniversário Macabro apresenta cenas fortes de puro sadismo, com direito a mutilações, estupro e violência psicológica. Se aos olhos atuais algumas passagens são bastante extremas, é de se imaginar que no começo dos anos de 1970 o público tenha ficado boquiaberto. De forma inteligente, os realizadores usaram a carnificina para promover a produção, utilizando um conceito curioso nos cartazes que dizia: “Para evitar desmaios na sessão, repita a você mesmo que isso é apenas um filme”. Deu certo. Aniversário Macabro teve orçamento de apenas US$ 87 mil e arrecadou mais de US$ 3 milhões nas bilheterias.

Funciona no longa-metragem a inversão de expectativas. Invariavelmente em filmes de terror, os pais dos protagonistas não tem função ativa. São as pessoas que não acreditam na ameaça que seus filhos estão sofrendo, se dando conta apenas quando é tarde demais. Aqui, Estelle e John são figuras cruciais para o terceiro ato do filme, pagando um preço caro, mas respondendo na mesma moeda. Ainda que as atuações do elenco como um todo sejam bem fracas, ao menos os personagens vão a lugares não comuns.

Wes Craven sabe muito bem que o terror é maior quando o espectador consegue se enxergar na tela, se imaginar naquele cenário. Por isso, o cineasta utiliza uma câmera quase documental, com a tentativa de manter tudo muito pé no chão. Diz-se que em alguns países, tentaram vender o filme como um snuff, no qual as cenas violentas são verdadeiras. Existe crueza o suficiente para alguém acreditar que algumas passagens são reais, ainda que não o sejam.

Inexperiente, Craven peca na direção de atores e na inclusão de uma trilha sonora completamente destoante do clima do filme. A participação de um par de policiais atrapalhados também surge como um corpo estranho dentro da produção, nunca se justificando. Sem conseguir disfarçar o orçamento baixo, Aniversário Macabro se mostra um esforço ousado dos realizadores e mesmo que não consiga chegar ao resultado esperado, ainda entretém aos fãs mais ardorosos do gênero. Mostra um diretor que viria a ser conhecido como o pai de duas franquias de sucesso na seara do horror em puro desenvolvimento, com erros e acertos condizentes com sua tenra idade.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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