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Sinopse

O treinamento de um multicampeão às vésperas de estabelecer o recorde mundial de 12 vitórias consecutivas.

Crítica

Pablo Croce é um norte-americano, nascido em Washington, que foi criado em Caracas, capital da Venezuela, e que está estreando no cinema retratando uma personalidade bem brasileira: Anderson Silva, o polêmico campeão de MMA (sigla em inglês para Mix Martial Arts, ou Artes Marciais Mistas). O título do filme, Como Água, é uma referência a uma citação de Bruce Lee (que, aliás, aparece no começo do longa em uma imagem de arquivo explicando sua ideia). A intenção é que todo bom lutador deve se portar tal líquido, se adaptando a qualquer meio, ao mesmo tempo em que é forte unido e flexível o suficiente para superar as dificuldades que possam aparecer pelo caminho. E esta parece ser a lição principal desta obra.

Anderson Silva: Como Água tem como mote a disputa pelo título mundial de MMA, que ocorreu em Las Vegas em 2010. Silva era o então campeão, e havia sido desafiado pelo americano Chael Sonnen, que no filme ganha ares de super vilão. A intriga começa porque o brasileiro havia se consagrado numa disputa anterior que por muitos – inclusive pelos diretores da competição – fora considerada injusta. Ele venceu a luta contra Demian Maia por pontos, ao invés de partir para o combate em busca de um nocaute. Sua decisão em não lutar, visto que o oponente estava visivelmente em condição inferior, enfureceu o público, a imprensa e os organizadores, colocando-o como um campeão maldito. Sonnen, por outro lado, se apresentou como o lutador que prometia uma volta às origens. Falastrão, acusava Silva de ser fraco, mentiroso e por fim, uma farsa. Tímido, esse ouvia as acusações em silêncio, se manifestando o mínimo possível, e somente quando indagado. Por isso que a luta entre os dois foi tão emblemática, e o resultado surpreendente.

Quer dizer, só foi surpresa mesmo no momento, porque hoje, dois anos depois dela ter acontecido, quem a venceu é de conhecimento público e notório. Mas Croce decide ignorar esse fato e faz do seu Anderson Silva: Como Água mais um thriller do que um documentário de verdade. Pouco ficamos sabendo sobre a história de Anderson, de onde ele vem, quem está ao seu redor, quais são suas influências e referências, no que ele acredita e quais os motivos que o levaram a se tornar tal fenômeno. Tudo o que temos, no entanto, são dois marmanjos implicantes, numa disputa de cartas marcadas que não poderia ter terminado de forma diferente. Qualquer pessoa que faça uma busca rápida do Google saberá como o filme termina, e não por spoilers, e sim porque não existe mistério sobre um evento que foi tão aguardado e que por tantos foi visualizado.

Até uma das características mais marcantes do lutador é pouco explorada em Anderson Silva: Como Água: sua voz tão peculiar, fina e delicada para um homem daquele porte. O filme não tem humor, não tem suspense e não apresenta nenhuma revelação que o sustente. Até detalhes técnicos, como fotografia e iluminação, beiram o amadorismo. A impressão que se tem ao término é de ter visto um especial de televisão feito às pressas. E nem um astro como Steven Seagal – que realmente aparece para abençoar o brasileiro antes da luta – consegue alterar este sentimento. O projeto inteiro é um grande desperdício, e que serve única e exclusivamente para aumentar a popularidade do esportista, levando-o além do habitual círculo de interesses que frequentava. Já é alguma coisa, mas ainda assim muito pouco diante do seu potencial.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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