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Sinopse

Depoimentos e imagens de arquivo revelam mais facetas da cantora londrina que morreu aos 27 anos de idade.

Crítica

O diretor britânico Asif Kapadia, de ascendência indiana, já havia demonstrado talento, delicadeza e profundidade com o seu belo trabalho em Senna (2010). Desta vez, seu desempenho à frente de Amy o credencia como um autor com estilo marcante e original. E destaca, ainda, uma brilhante capacidade para realizar documentários biográficos que ultrapassam as narrativas convencionais, provocando sensações e impactos muito profundos. A trajetória da cantora Amy Winehouse – ou digamos, o início, o fim e o meio – todos nós conhecemos bem. E com certeza lamentamos a morte precoce deste ícone de uma geração, aclamada pela crítica, reconhecida desde jovem devido o grandioso poder de sua voz, sua capacidade de interpretação e estilo incomum. A questão em debate, no entanto, é como o cineasta retratou, pesquisou e conduziu este filme premiado no Oscar e no Bafta como Melhor Documentário, além de outros significativos reconhecimentos.

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No começo vemos Amy se divertindo ao estilo Marilyn Monroe (cantando para John Kennedy) no aniversário de 14 anos de Lauren Gilbert, uma de suas amigas em 1998. Até o seu funeral, 13 anos depois, temos uma rota na qual os passos e degraus alçados pela artista são mostrados através de um profundo mergulho na história da cantora. Sua personalidade e desenhada de modo criativo, inteligente e engraçado, mas, principalmente, levando em conta e explorando seus demônios. A abordagem psicológica e emocional amplamente emanada nesta produção tem tudo para ser tema de debates e estudos de avaliação entre os profissionais das áreas afins.

Amy é perspicaz na construção deste perfil ao apresentar os traços e carências que foram definitivos para a jornada trágica e melancólica que aguardava pela cantora. Entre eles, estavam a falta de limites na educação, as crises de bulimia, a transformação física, a baixa autoestima, o consumo desenfreado de drogas e álcool, as desilusões amorosas e afetivas, a escalada para o sucesso, o culto à celebridade, o oportunismo e egoísmo do marido. Tudo exposto de tal modo a formar uma colcha de retalhos que, por vezes, choca a ponto de gerar apreensão por parte de quem está assistindo. No auge da dependência, ela não possui mais nada da garota bonita, sorridente e de curvas abundantes. Ao contrário, sua imagem é de uma pessoa alienada, com aparência de zumbi, um retrato triste e dos mais duros vistos nos últimos tempos em um documentário. A legítima crônica da morte anunciada.

A montagem apresenta imagens conhecidas do público, registros inéditos cedidos por amigas de infância e cerca de cem entrevistas, identificando na relação com o ex-marido, Blake Fielder-Civil, o consumo da heroína e do crack, a partir de 2005, e como ele também a convenceu de que todos estavam destinados ao fim clássico do romantismo: viver intensamente, morrer jovem. Mas é revelando a presença incômoda de Mitch Winehouse (pai da cantora), que aparece perseguindo a própria filha com uma equipe de filmagem na Ilha de Santa Lúcia, onde ela ficaria seis meses para tentar recuperar a saúde, que o filme mostra a que veio. Nada escapa aos olhos atentos do diretor. E tampouco aos nossos.

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Há beleza também em Amy. O ponto alto se dá no encontro entre a cantora com Tony Bennett, ídolo dela. Nervosa e visivelmente insegura por estar fazendo um dueto com o astro, fica tensa e não consegue relaxar. É o momento em que percebemos sua fragilidade. Reconfortada pela tranquilidade, segurança e experiência do veterano cantor, um autêntico cavalheiro, ela solta a poderosa voz e canta de maneira espetacular. No final, é Bennet quem formula a frase mais emblemática do documentário. Em seu desfecho, ele sentencia:

A vida ensina a viver... se você viver o suficiente”.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.

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