Amores Imperfeitos
Crítica
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Sinopse
O filme nos leva para dentro de um sonho de Ana. No sonho. Julio e Ana se encontram dez anos depois de sua separação e um dia antes da mudança de Júlio para a Noruega. Um convite de Júlio os leva por uma jornada por São Paulo, visitando lugares do seu passado e que agora irão ajudar a re-acender a chama desse amor. Mas quem disse que precisamos aceitar o que o destino nos apresenta? Pois como um diz um velho provérbio americano: Sonhos são desejos que nosso coração cria.
Crítica
Existe uma segunda chance no amor? E se existe, será que os protagonistas de cada história romântica estão prontos para enfrentá-la de frente quando ela se apresenta novamente? E “de frente” quer dizer de uma forma mais madura, adulta, transformada, reconhecendo os erros anteriores e pronto para lidar com os novos – e velhos – problemas de um modo diferente. Nem todo mundo possui essa lucidez e distanciamento para dar esse necessário passo à frente. E é sobre isso que discorre o nacional Amores Imperfeitos, um filme humilde em suas pretensões e ambicioso no tema que aborda. Afinal, contos de amor há vários, mas aquele que irá mudar sua vida para sempre é um só.
Ana (Patrícia Pichamone, de Linha de Passe, 2008), reencontra por acaso, em plena São Paulo, Julio (Felipe Kannenberg). Ele está de passagem marcada para a Noruega no dia seguinte, sem data para voltar. Ela está sem rumo, em busca de algo – ou alguém – que lhe ofereça um norte. Eles já significaram muito um para o outro, mas estão há alguns anos separados. Quando ficam novamente um defronte ao outro, a impressão que se tem é daquele frescor de início de namoro, com os primeiros flertes, a atração surgindo transbordante pelos olhos que brilham. A diferença é que ambos já passaram por aquilo, estando exatamente nos mesmos lugares de agora, porém sem a consciência de onde aquele caminho poderá conduzi-los caso as atitudes de antes se repitam.
O que acontece entre Ana e Julio neste único dia entre a nova – e inevitável –separação, já anunciada desde o princípio, é aproveitarem até o último instante, um ao lado do outro. A referência imediata é a Trilogia Jesse & Celine, de Richard Linklater, com Ethan Hawke e Julie Delpy como protagonistas (Antes do Amanhecer, 1995; Antes do Pôr-do-Sol, 2004; Antes da Meia-Noite, 2013), mais precisamente os dois primeiros episódios – ou seja, é como se fosse tudo novo, porém todos sabem – nos dois lados da tela – que se trata de uma segunda vez. E com essa, os riscos e as responsabilidades de se cometerem os mesmos erros – ou buscar decididamente novos acertos. O desenvolvimento a partir desse ponto é leve e orgânico, ainda que o final ofereça uma reviravolta desnecessária e tropeçante, destoando do resto do enredo visto até aquele momento.
Kannenberg é um ator em franca evolução. Desde os personagens mais periféricos que interpretou em filmes como Meteoro (2007) e A Mulher Invisível (2009), passando pelos coadjuvantes de peso, como o visto em 400 Contra 1 (2010), até os protagonistas de Menos que Nada (2012) e deste Amores Imperfeitos, suas nuances e diversificadas atuações o apontam como, provavelmente, um dos mais versáteis nomes da atual produção nacional. Aqui ele se demonstra à altura do desafio de um personagem que está quase o tempo todo em cena, dividindo a ação com apenas uma atriz, no caso a bela, porém limitada, Patrícia Pichamone. Se a condução proposta por ela – afinal, tudo começa a partir de sua iniciativa de não ignorar o destino e esta providencial coincidência – muitas vezes se repete, e nisso é preciso ressaltar a ausência de um roteiro que desenvolvesse melhor seus diálogos, Kannenberg é o homem que segura as pontas, garantindo um foco de atenção para o espectador com sua virilidade e simpatia.
Amores Imperfeitos é o trabalho de estreia do diretor Marcio de Lemos, que antes havia trabalhado apenas em alguns curtas-metragens. Este filme, premiado no Festival de Maringá e exibido também no FESTin Lisboa 2012, infelizmente permanece inédito no circuito comercial brasileiro. Esta é uma situação que evidencia descaso e falta de preparo dos nossos exibidores e distribuidores de abrirem espaços para projetos que não apostam no riso fácil, no retorno imediato, mas que aos poucos vão apresentando possibilidades de crescimento junto aquele que é o mais importante em todo este processo: o espectador.
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Amei este filme, a serenidade dos dois, parecia qe este casal tinham 40 ou 50 anos, com tanta vontade de serem felizes, sem detalhes chatossss