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Sinopse

Jade é uma jovem superprotegida pelos pais que se apaixona por David. Ele é um sujeito humilde e com um passado controverso. Embora não tenham seu relacionamento aprovado pela família dela, ambos vão vivê-lo intensamente.

Crítica

Amor Sem Fim, remake do longa homônimo dirigido nos anos 1980 por Franco Zeffirelli, é um daqueles filmes sem os quais poderíamos viver numa boa. Isso porque a trama baseada no romance de Scott Spencer, cujo centro é o relacionamento cheio de percalços entre a garota rica, Jade Butterfield (Gabriella Wilde), e o rapaz de origem humilde, David Elliott (Alex Pettyfer), surge cinematograficamente de maneira muito simplista e pálida. O protagonista que sempre gostou da menina isolada dos demais logo terá a abertura sonhada. E quando digo logo, é logo mesmo. Aliás, tudo na narrativa se resolve de forma apressada. Não há tempo suficiente para o espectador dimensionar, por exemplo, o que significa para David conseguir a atenção da amada, pois sem delongas ela cai de amores por ele.

De repente, os dois se amam perdidamente. Claro, surgirá uma série de barreiras, sendo a maior delas o superprotetor Hugh (Bruce Greenwood), que lançará mão de todos os artifícios para separar sua filha de David, um tanto por ciúme e outro tanto por medo. Descrito assim, pode parecer que este pai é uma figura unidimensional, quase um vilão cartunesco. Pois bem, de fato sua natureza é praticamente essa, exceto por algumas camadas mal imbricadas que tentam lhe conceder algo para além da vilania pura. Infelizmente, ele e os demais personagens são construídos sobre estruturas frágeis, servem apenas ao propósito de contrapor amor e ódio, acabando, assim, meros instrumentos maniqueístas.

O sentimento persistente é o carro-chefe de Amor Sem Fim, daqueles filmes melosos que soam ligeiramente simpáticos apenas se tivermos um bocado de condescendência. O casal Alex Pettyfer e Gabriella Wilde até que se sai razoavelmente bem como par romântico, mas é difícil aturar o sentimento que os une, idealizado até o limite da caricatura. Até mesmo o sexo é visto (e filmado) quase como parte de um ritual espiritual, sem um pingo de sensualidade. Assim como o sexo, as dificuldades também perdem força (e importância) diante desse clima paradoxalmente opressor de “o amor tudo vencerá”. Os problemas surgem apenas como “escada” às soluções e não como parte orgânica da vida.

Quanto mais próximo de seu encerramento, mais Amor Sem Fim soa desnecessário, previsível e inofensivo, na mesma medida. Acredito que não vá ofender a inteligência de alguém, gerar polêmicas, ser alvo de grandes admiradores, nem ao menos de detratores ferrenhos, e por isso mesmo fica a pergunta: qual sua razão de existir? A gente já sabe desde praticamente o início que as coisas serão difíceis para o casal principal, mas que, pelo andar da carruagem, tudo vai se resolver, a nobreza triunfará contra os mal-intencionados, estes que, por sua vez, se regenerarão. Tudo em seu devido lugar, ou seja, o bem vencendo o mal contra as probabilidades. Amor Sem Fim provavelmente não encontrará grande público mesmo entre os que gostam de contos de fadas lacrimosos e açucarados, pois repleto de uma ingenuidade anacrônica.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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