Crítica

Justin Timberlake cada dia mais se consolida como ator, deixando para trás uma muito bem sucedida carreira como cantor. Dos anos do grupo adolescente N*Sync aos dois álbuns solos, sem falar das inúmeras colaborações – como com o rapper Timbaland e a megastar Madonna – Timberlake teria tudo para se firmar como “o novo Michael Jackson”. Mas, ao invés disso, ele parece ter preferido o estrelato na tela grande. E após bem sucedidas aparições como coadjuvante em produções elogiadas como Alpha Dog (2006) e A Rede Social (2010),  finalmente marca presença como protagonista neste agradável e divertido Amizade Colorida. E o resultado é mais do que positivo.

Claro que para isso ele contou com duas ótimas escolhas. Primeiro, o diretor Will Gluck, do excelente A Mentira (2010), que mostra mais uma vez ser capaz de reinventar clichês e entregá-los ao público sob uma nova perspectiva, atraentes e irresistíveis. Depois, temos a co-protagonista Mila Kunis, que após o apocalíptico O Livro de Eli (2010) e do intenso Cisne Negro (2010) retorna a um espírito mais leve e descontraído, como no programa que a lançou, o seriado That 70’s Show. Gluck, também co-autor do roteiro, oferece um texto contagiante e que apesar de brincar com elementos que estamos cansados de visitar aparenta ser novo e original. Já os dois – Timberlake e Kunis – estão simplesmente adoráveis. A química entre eles é evidente em cena, e não há quem na plateia não fique na torcida pelo final feliz, por mais óbvio que este o seja.

Assim como no recente Sexo sem Compromisso (2011), Amizade Colorida é a história de dois amigos que decidem transar, porém sem um compromisso sério entre eles. “É como jogar tênis, só mais uma atividade”, chegam a afirmar. Só que é claro que o que começa tão bem logo irá se transformar em algo mais sério, ao menos para um dos dois. E como falar a verdade nesse ponto? Quem irá assumir seus verdadeiros sentimentos primeiro? Neste ponto, o que fica claro no filme é que não importa muito como ele termina – até porque todo mundo sabe de antemão a conclusão da trama – e sim o que acontece até lá. É o processo que diverte e conquista, e não exatamente o ponto final.

Amizade Colorida é tudo o que Sexo sem Compromisso queria ser, mas não conseguiu. Justin Timberlake tem um charme e um sexy appeal que Ashton Kutcher sonharia conquistar. Natalie Portman é uma grande atriz, mas comediante ela não é – e essa é toda a diferença em relação à Mila Kunis, aliás, sua parceria no já citado Cisne Negro. Mas o melhor mesmo desse novo filme é o estrelado elenco de apoio – Richard Jenkins, Woody Harrelson, Jenna Elfman, Patricia Clarkson – e o enredo, que não tem vergonha de assumir sua obviedade e, mesmo assim – ou talvez por isso mesmo – é capaz de surpreender. Simpático, leve e envolvente – o que mais se pode pedir de uma comédia romântica? Talvez não subestimar a inteligência do espectador. E é dessa forma que Amizade Colorida conquista o público do início ao fim.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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