Crítica

O cinema francês, assim como poucas cinematografias em todo o mundo, é por demais estereotipado. O simples mencionar desta expressão nos provoca reações imediatas, como se todo filme produzido na França fosse lento, demasiado profundo e repleto de metáforas. Mas esta visão está cada vez mais distante da atual realidade, como mostra a comédia romântica Amar Não Tem Preço, de Pierre Salvadori. Agora, se essa mudança de rumo foi ou não saudável, esta é uma questão que merece ser discutida mais atentamente.

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Assumidamente inspirado no clássico Bonequinha de Luxo (1961), de Blake Edwards e estrelado pela irresistível Audrey HepburnAmar Não Tem Preço traz à frente do elenco um xará da antiga estrela, a francesinha Audrey Tautou, no seu primeiro trabalho após o estouro internacional no campeão de bilheteria O Código Da Vinci (2006). Uma escolha, no mínimo, tímida. Afinal, com o sucesso do seu primeiro trabalho em língua inglesa ela poderia ter optado por projetos mais ousados, de maior ambição artística ou visibilidade comercial. No entanto, preferiu voltar a sua terra natal e estrelar um filme que dificilmente ficará na memória de algum espectador por muito tempo.

 Amar Não Tem Preço mostra o que acontece quando uma vigarista, que ganha a vida se envolvendo com senhores bem mais velhos do que ela e com a carteira muito mais recheada, confunde o garçom do hotel em que está hospedada com um milionário e acaba indo para a cama com o pobretão. Mas seus problemas começam de verdade quando algo involuntário se intromete no seu caminho: o amor. E como a atração entre os dois será cada vez maior, um terá que ensinar ao outro como sobreviver naquele cenário, nem que às vezes os papéis entre eles tenham que se inverter.

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Ao lado de Tautou está o ótimo ator marroquino Gad Elmaleh, que já tinha revelado um talento cômico bastante singular em Xuxu (2003), em que aparecia como um travesti. Aquele ele é um galã improvável, seduzindo de jovens garotas a experientes senhoras de modo hilário. É ele o grande destaque do filme, justificando em parte as expectativas geradas pela produção. Infelizmente, por outro lado, isso não é suficiente. E com um ritmo lento e sem muita química entre os dois protagonistas – ele praticamente carrega o filme nas costas, enquanto ela parece ter deixado no passado o carisma visto em obras como O Fabuloso Destino de Amélie Poulin (2001) e Albergue Espanhol (2002), Amar Não Tem Preço acaba caindo na vala comum de toda comédia romântica, seja produzida na França ou em qualquer outro lugar do mundo. E sem identidade nem originalidade, a questão que fica é: por quê?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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