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Sinopse

Tóquio é quase completamente destruída após uma explosão misteriosa em 1988. Em seu lugar surge uma nova metrópole. Em meio ao caos, um jovem motoqueiro encontra uma criança com estranhos poderes fugida de um hospital onde era mantida como cobaia. Uma conspiração se revela.

Crítica

Quando lançado em 1988, Akira atraiu fãs da animação não apenas por apresentar um estilo cinematográfico autêntico, com uma concepção artística bem específica sobre um futuro possível, mas também por revelar autores da cultura pop japonesa capazes de pensar relações inesperadas entre a racionalidade científica e o misticismo paranormal, entre a física pura e metafísica primordial. Afinal, em poucos países a dimensão técnica e as tradições filosóficas ou dogmáticas têm peso tão semelhante entre si. No filme de Katsuhiro Otomo, baseado em seu cultuado mangá, perspectivas de pensamento que se tornaram díspares com o passar do tempo, e que se ocupam de questões afins, convergem em uma narrativa de ação cyberpunk que mistura gangues de motociclistas adolescentes, ativistas políticos libertários e ciência militar top secret na Neo Tóquio de 2019, a megacidade cintilante construída sobre a Tóquio original, devastada em 1988 por uma explosão monstruosa cuja natureza é desconhecida no início do longa-metragem.

Akira 3_papo de cinema

Na selva urbana futurista e indomável, o motoqueiro rebelde Tetsuo, amigo e rival de Kaneda, o líder de sua gangue, acaba sendo capturado por militares após atropelar Takashi, um menino azul paranormal fugitivo de uma unidade governamental que estuda os poderes da mente. Takashi, pequenino e com aparência envelhecida, vive enclausurado pelo governo juntamente com Masaru e Kiyoko, outras duas crianças azuis paranormais cobaias de pesquisa. Os três são considerados uma nova linhagem de humanos cujo poder, porém, não se compara ao de Akira, garoto que desenvolveu uma energia psíquica/corpórea essencial que permanece inacessível a todos os outros humanos. De tão analisado durante anos, Akira acabou reduzido a poucos órgãos mantidos vivos artificialmente em uma instalação de segurança máxima.

Sequestrado pelas Forças Armadas pós-contato imediato com Takashi, Tetsuo é submetido a experimentos de ordem cerebral que o tornam um telepata telecinético descontrolado movido por vingança. No seu percurso de destruição apocalíptica, o rapaz descobre sua crescente energia mental, capaz de modificar a matéria e alterar a física do mundo. Assim, decide acertar as contas com Kaneda e enfrentar o trio de crianças azuis em uma sequência de suspense e terror psicológico de tirar o fôlego. Ao desafiar o poderio militar voando com uma capa vermelha tal como Superman, Tetsuo consegue despertar Akira para um explosivo embate final – que remete não apenas à causa da explosão fílmica de Tóquio em 1988, informação essencial para o longa-metragem, mas também aos históricos ataques nucleares que arrasaram Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Se a trama parece megalomaníaca, a seriedade com que temas como política, religião, tecnologia, sociedade e amizade são tratados afasta qualquer chance de abordagem superficial sobre o denso roteiro de Katsuhiro Otomo e Izô Hashimoto. Com detalhismo visual, especialmente no que diz respeito a traços, movimento, cores, opacidades e fluorescências, e a partir de uma narrativa ágil, organizadora de diversos personagens e tramas convergentes, os autores fazem de Akira uma ficção científica futurista de ordem existencial, que entende a essência vital humana como primeira e mais importante energia propulsora do mundo.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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