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Sinopse

Walter Mitty é o gerente de uma loja de produtos fotográficos. Ele é um homem tímido, levando uma vida simples, perdido em seus sonhos. Quando um negativo desaparece, Walter é obrigado a embarcar em uma verdadeira aventura.

Crítica

Em meio ao despejar de filmes que estreiam no final do ano, A Vida Secreta de Walter Mitty desvia das fórmulas prontas e do óbvio para ser uma das melhores surpresas do momento. Familiar ao público anglófono pela literatura de James Thurber, Walter Mitty (Ben Stiller) representa a figura do homem prosaico: temperamento estável e comedido, boa relação com a família, correção de caráter e dedicação ao trabalho. Antes mesmo de apresentar tais características a quem o desconhece, a cena inicial nos dá uma síntese precisa. Cadastrado em uma rede social de relacionamentos, Mitty trava quando encontra o perfil da colega de trabalho Cheryl (Kristen Wiig), de quem está a fim. A sequência de plano e contraplano nos permite perceber o pavor e a insegurança que tomam conta do protagonista ante uma simples tomada de decisão. Quando finalmente a realiza, o sistema falha.

A introdução expressa perfeitamente a dualidade que resultará na impotência de Mitty. Por um lado, pressionado pela cobrança do homem que acredita dever ser e, por outro, preso às idealizações, pela primeira vez o gerente de negativos da revista Life parece se deparar com a mesquinhez da sua vida. No momento em que a revista passa por uma transformação para tornar-se exclusivamente digital, Mitty aceita o desafio análogo e remodela a sua trajetória.

Com roteiro de Steve Conrad (À Procura da Felicidade, 2006) e Ben Stiller na sua mais sólida direção, A Vida Secreta de Walter Mitty traz à tona assuntos contemporâneos, como a modernização da informação e a influência da tecnologia nas relações pessoais, a fim de procurar o lugar do homem em meio às mudanças. Para isso, depois de focar o primeiro ato na construção do panorama de Mitty, desenvolvendo o antagonismo entre o mundo que tem e o que deseja, o roteiro lança mão de um artifício que o motiva a sair da estagnação. Quando a fotografia que estampará a última edição física da revista não é encontrada, o personagem vê a sua competência colocada em dúvida. Sem suportar a mancha, que mais parece um equívoco, na reputação, ele resolve ir atrás do fotógrafo Sean O’Connell (Sean Penn em brevíssima aparição) para tirar a questão a limpo, esteja onde estiver.

A partir do segundo ato, o filme se emaranha no próprio desejo de liberdade do protagonista e joga o espectador em uma espécie de cópia simpática, porém limitada, de Na Natureza Selvagem (2007), o ótimo filme de Sean Penn. No momento em que encara o desafio – e a visão utilitarista – de Ted, o personagem um tanto deslocado de Adam Scott, Mitty se permite deixar de idealizar e passa a viver o mundo. Com a variação sintomática dos tons, agora vivos, da direção de arte e nos planos, agora abertos, da fotografia, o espectador quase se depara com um novo filme e passa bons momentos ao lado do personagem que descobre a vida tarde – mas não demais.

Pode-se dizer que um dos grandes méritos de A Vida Secreta de Walter Mitty é fazer com que a trajetória do protagonista não desemboque, com a conciliação completa entre desejo e realização, na felicidade plena, obviamente postiça. Ainda que o final trema, alternando o realismo e o otimismo adocicado, o resultado supera o artificialismo comum ao gênero para se tornar um conto que aposta na sobrevida dos valores humanos.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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