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Sinopse

Beatrice Prior e seu grupo são encontrados por uma resistência, que pretende tomar a cidade de Chicago para criar uma base de sobrevivência para a humanidade. Porém, nem tudo é tão perfeito quanto parece, e logo ela entra em conflito com a liderança desse novo grupo.

Crítica

A saga Divergente, talvez até mais do que seus similares contemporâneos – Jogos Vorazes e Maze Runner, por exemplo – construiu sua mitologia a partir do pressuposto em que não se pode confiar em ninguém. Em Divergente (2014), o longa original, a protagonista vivida por Shailene Woodley descobriu não se encaixar em nenhuma das cinco facções em que o mundo pós-apocalíptico onde a trama se passa foi dividido, enquanto que em Insurgente (2015) ela precisou se voltar contra a autoridade máxima local (Kate Winslet) e, num último momento, foi traída pelo próprio irmão (Ansel Elgort). Em Convergente, terceiro capítulo da quadrilogia – que deve se encerrar com Ascendente – decidir quem ter ao seu lado parece ser uma tarefa ainda mais complicada. Porém, esse grau de insegurança é elevado a tal ponto que mais nada parece fazer sentido – você já sabe de antemão que qualquer sorridente que se aproxima dos nossos heróis está a um passo de atacá-los. E, inevitavelmente, assim o fazem, eliminando qualquer grau de surpresa e fazendo deste talvez o episódio mais enfadonho até o momento de toda a saga.

Com a morte de Jeanine (Winslet, que soube cair fora na hora certa), líder da Erudição, e a derrocada do sistema anterior, sobrou apenas as responsáveis pela Amizade (Octávia Spencer) e dos Sem-Facção (Naomi Watts). Não tardará, no entanto, para que as duas se desentendam, com a supremacia bélica da segunda, que aos poucos começará a repetir os mesmos passos de sua antecessora no comando de Chicago. Tris (Woodley) e Quatro (Theo James) percebem isso, e ao lado de Caleb (Elgort), Peter (Miles Teller) e Christina (Zöe Kravitz), tratarão de fazer aquilo ao qual estão destinados: escaparem dali, escalando os muros da cidade e descobrindo o que há lá fora. A imagem inicial é desoladora: um cenário desértico, provavelmente vítima de uma guerra nuclear. Mas rapidamente percebem que não estão sozinhos, e chegam a uma outra cidade, escondida sob um escudo holográfico. Lá, a dimensão da realidade ao redor deles se aumenta. Há um novo poder, representado por David (Jeff Daniels), que tudo vê, tudo sabe e a todos controla. E, além dele, um Conselho, localizado na cidade de Providence, onde se encontra o que sobrou da humanidade. Mas qual o preço a ser pago por isso?

Se em Divergente, Tris e Quatro se estranham até ficarem juntos, em Insurgente a atração fica cada vez mais forte, a ponto de torná-los inseparáveis. Ao contrário dos enredos de Crepúsculo ou do já citado Jogos Vorazes, aqui não há espaço para um triângulo amoroso. Se isso pode ser entendido como uma tentativa mínima de se diferenciar da concorrência, por outro lado elimina qualquer tipo de tensão e dúvida. Assim, o máximo que Convergente pode oferecer é uma separação momentânea: Tris decide acreditar e abraçar sua condição de geneticamente pura, enquanto que Quatro seguirá desconfiando de tudo e todos até vislumbrar as reais intenções daqueles ao seu redor. Não demorará muito para descobrirmos qual dos dois tem razão.

A trama do filme dirigido por Robert Schwentke – o mesmo do longa anterior e também do problemático R.I.P.D.: Agentes do Além (2013) – é bem mais linear do que os fãs da série podem estar habituados. O foco está na dupla de protagonistas, e enquanto Caleb assume de vez sua posição de coadjuvante e Christina não tem muito o que fazer, de Peter recebemos exatamente o que o personagem está acostumado a entregar, repetindo seu modus operandi. E se parece estranho o futuro da existência humana estar nas mãos de um bando de adolescentes, talvez se explique pelo fato dos adultos aqui envolvidos serem desenhados de forma tão rasa e previsível que chega a ser difícil levá-los a sério. As tentativas de Spencer impor respeito provocam mais riso do que medo, enquanto que Daniels tenta imprimir aqui o mesmo tom de autoridade visto nos recentes Perdido em Marte (2015) e Steve Jobs (2015), porém sem a excelência que estes projetos lhe ofereciam. Em resumo, pouco consegue ir além da caricatura. Destino melhor, no entanto, que o enfrentado por Naomi Watts, que deveria ser a força por trás das maiores ações e tudo que consegue exibir e hesitação e fraqueza.

Convergente é o filme do quase. É quase o fim – só não é o final porque, assim como virou moda no gênero, os produtores decidiram dividir o último livro da saga escrita pela jovem Veronica Roth (a autora nasceu em 1988, o que já explica bastante a respeito de suas referências) em duas partes. É aquele em que todo mundo quase morre – há tiroteios, naves que despencam, explosões, ameaças de gases, mas nada vai além de alguns sustos, pois consequências práticas dessas ameaças são inexistentes. É o que Tris e Quatro quase se separam – mas que graça teria esperar pelo próximo longa se eles não estivessem juntos? E é o que quase descobrimos o que está por trás dessa distopia sobre o fim do mundo. Ou seja, não explica nada e após dar várias voltas em torno de si mesmo, termina exatamente como começou: no mesmo lugar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Thomas Boeira
3
MÉDIA
4

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