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Sinopse

Mark Zuckerberg, estudante de Harvard, decide trabalhar na ideia de uma rede de relacionamento dentro do campus. Seis anos e 500 milhões de amigos depois, ele se torna um jovem bilionário, um dos homens mais poderosos do planeta. Todavia, o sucesso do Facebook lhe acarreta complicações na vida social e amorosa.

Crítica

O filme da nossa geração”! “O retrato dos nossos tempos”! “Facebook vira cinema”! Muito já se falou sobre A Rede Social, mas será que já foi dito tudo?Apesar de sua contemporaneidade, talvez estejamos enganados e sejamos muito jovens para analisá-lo com cuidado e precisão. O filme de David Fincher (que já nos entregou o excepcional Clube da Luta, 1999, entre tantos outros novos clássicos) é daqueles mais difíceis, e que justamente por isso se vende de forma leve e tranquila, sem medo de assustar ou afastar ninguém. Mas essa aparente simplicidade esconde algo muito maior e mais intenso, uma profundidade cruel e feroz, que desvenda a alma humana no que lhe é mais caro: as relações que estabelecemos uns com os outros.

Hoje em dia são poucos os “modernos” e “conectados com o mundo” que conseguem viver isolados, longe de um computador, de um telefone ou da internet. E se estamos cada vez mais dependentes, nada mais interessante do que pararmos um pouco e prestarmos atenção na vida de um dos homens responsáveis por tudo isso. Este é Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem com menos de três décadas de vida, mas que há menos de dez anos inventou algo que mudou a forma como um grupo cada vez maior de pessoas se comunica: o Facebook. Espécie de ‘mãe de todas as demais redes sociais’, o Facebook hoje pode ser aproveitado para os mais diversos fins, mas surgiu após uma frustração.

Vendo-se novamente solteiro, ao ser deixado pela namorada, Zuckerberg constrói um site que visava humilhar as colegas e estudantes do sexo feminino de Harvard, universidade em que estudava na época. O sucesso foi instantâneo, e em seguida outros jovens, também criativos e com ideias inovadoras porém dotados de um espírito mais empreendedor e comercial, se aproximaram dele para tentar capitalizar toda aquela exposição em algo que pudesse reverter em benefícios financeiros. Mas nosso herói – um nerd recluso que nunca era convidado para as festas e que tinha poucos amigos – conseguiu ver adiante, e combinando as diversas ‘inspirações’ (se é que assim podemos dizer) que estava recebendo, conseguiu elaborar algo ainda mais revolucionário e, ao mesmo tempo, direto e objetivo. Exatamente como o filme A Rede Social hoje se posiciona.

Com elementos de drama shakespeareano, repletos de suspeitas de traições, invejas e decepções, A Rede Social parte de algo básico para desenhar contornos muito mais profundos em seus personagens retratados, homens como eu e você, e mesmo assim completamente únicos dentro deste universo seleto. Eisenberg, como o protagonista, dá um show de interpretação em pouco se revelar, indo num tom que indica que “menos é mais”, e tudo pode ter mil significados ou, pelo contrário, ser exatamente o que anuncia, sem segundas intenções. Depende do jogo que será jogado. Seus colegas Andrew Garfield (o novo Homem-Aranha) e Justin Timberlake (cada vez mais ator do que cantor) estão igualmente excelentes, e suas exclusões do Oscar são grandes injustiças.

A Rede Social começou a temporada de premiações de final de ano como grande favorito, sendo eleito por praticamente todas as agremiações de críticos nos Estados Unidos como Melhor Filme do ano. Isso durou até a vitória no Globo de Ouro. Depois, seu maior concorrente, O Discurso do Rei (2010) passou a ganhar força, levando os prêmios da indústria – sindicato dos diretores, dos atores, dos produtores. Resultado que, infelizmente, se confirmou no Oscar. Mas arrisco dizer que foi até compreensível que este estudo sobre a alma humana tenha sido derrotado. Não estamos prontos para um filme como esse. E isso é um bom sinal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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