A Música Segundo Tom Jobim
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Sinopse
Documentário sobre um dos maiores nomes da música brasileira, Antônio Carlos Jobim. Dirigido por Nelson Pereira dos Santos e por Dora Jobim, o filme mostra a trajetória musical do compositor de clássicos como Garota de Ipanema, Chega de Saudade e Águas de Março. Abordará a parceria com Vinicius de Moraes e a influência da música clássica em sua obra.
Crítica
Nelson Pereira dos Santos é um dos maiores nomes da história do cinema brasileiro. Mas não no momento atual. Seu último grande filme talvez tenha sido Memórias do Cárcere, em 1984. Ou seja, há quase 30 anos! Desde então ele tem se dedicado a recriar a própria obra ou a lidar com as dificuldades de fazer cinema hoje no Brasil, investindo em documentários ou produções de televisão. E um legítimo exemplo do “jeitinho” que ele tem dado para se manter ocupado é esse A Música segundo Tom Jobim, um “filme” que de “filme” não tem nada. Uma boa definição seria videoclipe, ou audiovisual musical. Enfim, uma grande coletânea dos melhores momentos da carreira do compositor carioca, que até faz sentido em alguns acertos, mas que em sua maioria nada mais é do que uma homenagem simplista e óbvia.
No dia 25 de fevereiro de 2012, caso estivesse vivo, Tom Jobim completaria 85 anos de idade. Para marcar esse data, foi lançado nos cinemas de todo o país esse pseudo-documentário, que conta ainda na co-direção com a participação da neta do menestrel, Dora Jobim, e com Miúcha (irmã de Chico Buarque), como roteirista. Esse, no entanto, é o crédito mais curioso de todos, pois qual teria sido o trabalho de roteiro aqui, além de uma vasta pesquisa no youtube e de ordenar os vídeos encontrados de acordo com uma sequência, em sua maior parte, aleatória? Em entrevistas, Dora afirmou que a maior dificuldade da produção foi encontrar imagens em vídeo que estivessem em boa qualidade. Ou seja, absolutamente nada foi captado especialmente para essa obra. E, portanto, voltamos à indagação inicial: sem filmagens é possível considerá-lo um “filme”?
Isso tudo dito, é importante afirmar que A Música segundo Tom Jobim, apesar de ser cansativo em algumas partes específicas, como um todo é um bom programa para fãs – e somente para eles. As canções, como todos sabem, são lindas e universalmente aclamadas, e essa é justamente a principal intenção do trabalho: apontar como o mundo inteiro se curva e reconhece a genialidade de Jobim. Mas ao invés de um apanhado mais amplo, temos incansáveis repetições das mesmas composições. Para se ter uma boa noção, Águas de Março aparece em quatro interpretações diferentes, Chega de Saudade e Desafinado em três, Insensatez, Samba de uma Nota Só e Corcovado duas vezes e a clássica Garota de Ipanema aparece no cúmulo de onze vozes diferentes! Por favor, o cancioneiro do artista é muito mais amplo, e com certeza essa disposição poderia ter sido mais justa e equilibrada.
Em A Música segundo Tom Jobim não há entrevistas, depoimentos ou narrações. Enfim, não há diálogos, apenas as músicas. Pensa-se, portanto, que as imagens se encarregariam de contar alguma história. Infelizmente, isso não acontece. O próprio Tom Jobim, para ser ter ideia, aparece cantando pela primeira vez após quase meia hora do início da projeção. Até lá e depois temos intérpretes renomados, como Gal Costa, Dizzy Gillespie, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr, Judy Garland, Elis Regina, Adriana Calcanhoto, Nara Leão, Maysa, Fernanda Takai, Nana Caymmi, Diana Krall, Sarah Vaughn, Carlinhos Brown, Stacey Kent, Milton Nascimento e, claro, Vinícius de Moraes e Frank Sinatra. Mas também passamos por alguns de menor – ou quase inexistente – expressão, como Lisa Ono, Jane Monheit, Cybele e Cynara, Mina, Lio, Marcia, Gary Burton, Pierre Barouh e Jean Sablon, entre outros. Qual o sentido destas participações? Memória afetiva dos realizadores, talvez, mas para o espectador pouco significado se identifica. E isso resume bem o título: temos a música, mas não a história, a vida, a experiência, a trajetória, o impacto. Tudo isso ficou de fora. Quem sabe para uma próxima oportunidade.
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