Crítica

O diretor Mathieu Seiler criou um conto de fadas contemporâneo e angustiante em seu filme A Excursão. Livre de clichês, o cineasta apostou na criatividade do roteiro para conduzir uma história quase lírica sobre folclore, fantasia e mutação.

Lançando mão de um ambiente misterioso e de uma narrativa de suspense, em que a dúvida paira no ar durante boa parte do longa, Seiler elaborou uma crescente percepção de medo sem identificar a raiz desta sensação até o final da trama. Longe de ser vago, o artifício é eficaz. O sentimento de apreensão é ampliado em contraste com belas imagens em tons pastéis.

Trata-se de uma jovem família de Berlim que aproveita o verão para fazer um piquenique em uma floresta. Pai, mãe, filha e tia partem para o leste. A pequena Flora, ávida leitora, pressente que a região não é a ideal. Sabe que pessoas têm desaparecido por lá, mas ninguém se importa com a opinião da menina.

No caminho, as três mulheres comem pequenos morangos silvestres colhidos pela garota. Apesar do gosto estranho, as frutinhas são apreciadas. Escolhido o local do piquenique, e após a refeição frugal, todos dormem. Horas depois, mãe, filha e tia acordam em locais separados, com algumas escoriações. Já o pai está desaparecido.

Ao se reencontrarem, e sem saber o que houve, elas têm a sensação de estarem sendo seguidas. Na fuga, descobrem uma pequena casa onde há um menino aguardando a volta da avó, que nunca chega. À noite, o grupo avista olhos brilhantes na escuridão da mata vigiando a residência. A sensação de insegurança só aumenta. Na manhã seguinte, elas acordam ainda mais machucadas e sem lembrança do que se passou. Desta vez, quem sumiu foi o garoto.

Em um antigo livro alemão que há no casebre, Flora lê sobre a origem de eventos sobrenaturais ancestrais. A obra indica que, quando os homens decidiram renunciar à natureza para dar início à civilização urbana, uma espécie de maldição recaiu sobre a humanidade. A partir dela, o mundo natural passou a reivindicar o retorno de homens e mulheres ao seu ambiente.

Ameaçadas pelo inexplicável, mãe e tia tentam montar o quebra-cabeça de todas as formas possíveis para se salvarem, mas a única que parece entender o que realmente está ocorrendo é Flora. E a menina está tranquila com o futuro irreversível que as aguarda, pois não há nada que se possa fazer para impedi-lo.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
avatar

Últimos artigos deDanilo Fantinel (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *