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Sinopse

Hortência é uma repórter obcecada por se tornar âncora de telejornal. Para atingir seu objetivo, ela inventa um assassino em série a fim de alavancar a carreira com seu acesso exclusivo ao caso que toma grandes proporções.

Crítica

Depois de surgir quase como uma convidada especial no problemático Superpai (2015), veículo feito para o estrelato de Danton Mello, a comediante Dani Calabresa retribui o favor convidando o ator para ser seu par romântico em A Esperança é a Última que Morre, mais um título que poderia facilmente cair na vala comum das comédias televisivas que tem incessantemente invadido às telas de cinema nacionais. Alguns elementos, tanto aqueles identificáveis no enredo como alguns perceptíveis na produção, entretanto, a salvam deste destino medíocre. Ainda que, após uma análise mais crítica, seu destino não seja muito diferente: o fácil esquecimento.

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Calvito Leal estreou como realizador como um dos codiretores do impressionante documentário Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2009), ao lado de Micael Langer e Cláudio Manoel. Quem conferiu esse belíssimo trabalho de resgate, pesquisa e edição teve contato com a curiosa trajetória de Wilson Simonal, o cantor que foi do céu ao inferno graças, principalmente, à manipulação das informações através da mídia, que numa hora o endeusava e na seguinte o condenava apressadamente por causa de uma suposta alienação artística e criativa durante o período da ditadura militar no Brasil. Pois esse mesmo contexto – o poder dos meios de comunicação – é o centro do argumento de A Esperança é a Última que Morre. E se essa nova abordagem, agora ficcional, é mais do que bem vinda, o problema está no formato e, mais do que isso, nos talentos escolhidos para desempenhar tal tarefa.

Calabresa é uma repórter pouco inspirada em busca de uma chance para se promover na emissora de televisão em que trabalha. Ao saber que há uma vaga para apresentar o principal telejornal da programação, decide investigar por que Nova Brasília, a cidade onde mora, é conhecida como a mais segura do país. Com a ajuda dos dois melhores amigos – Danton e Rodrigo Sant’anna – que trabalham no necrotério municipal, decide forjar a existência de um serial killer que fica conhecido como Assassino dos Provérbios. Sua cobertura dos casos – que nada mais são do que corpos não reclamados por familiares ou amigos que eles fingem terem sidos assassinados por alguém inspirado em ditos populares – desperta a curiosidade do público e joga um holofote sobre a incompetência dos governantes, estabelecendo um jogo de mão dupla, agradando uns e incomodando outros tantos.

Fica claro durante a curta duração do filme – são meros 78 minutos – o que o diretor gostaria de discutir com esse projeto. Temas como idoneidade da imprensa, ambição descabida pelo poder, despreparo das autoridades para lidar com situações adversas e espetacularização do jornalismo atual até chegam a ser levantados, porém nunca desenvolvidos com entusiasmo. A impressão é de um certo receio em ir além da superfície, como se qualquer discurso mais elaborado fosse afugentar o espectador. Intérpretes como Calabresa, Sant’anna e Katiuscia Canoro – a primeira do CQC e da MTV e os dois seguintes do Zorra Total – não são apostas seguras quando se busca sutileza e sensibilidade, e o desempenho deles comprova essa verdade. Já Mello acaba perdido entre companheiros como esses, sem saber ao certo qual tom dotar seu personagem, ficando entre o caricatural e o ingênuo.

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Mas há coisas boas em A Esperança é a Última que Morre. É raro que longas nacionais feitos para o gosto popular tenham, ainda que de forma escassa, uma preocupação em entregar um conteúdo original e com um mínimo de qualidade. Se o elenco tem potencial limitado, ao menos são controlados pelo diretor, que consegue extrair deles mais do que meros tipos movidos a gritos ou exageros, como estão acostumados na televisão. E entre uma protagonista de moral duvidosa e uma vilã que termina como vítima, tem-se um texto que brinca com a inversão de valores a ponto de estimular, sim, um mínimo de reflexão. Talvez não tenha sido seu objetivo principal, mas é curioso reconhecer esse mérito. Ainda mais porque faz jus, mesmo que aos tropeços, ao título genérico, porém apropriado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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