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Sinopse

Entre fevereiro e março de 1945, uma das batalhas mais cruciais da Segunda Guerra Mundial, a de Iwo Jima, se torna um emblema. A fotografia de soldados norte-americanos hasteando a bandeira no topo do Monte Suribachic se torna um marco, mas o que há por trás daquela imagem?

Crítica

Se há alguém em Hollywood que podemos considerar incansável - além, obviamente, de Meryl Streep, que conta com NOVE filmes em produção para 2008 - é Clint Eastwood. Ator, diretor, compositor, produtor: o homem simplesmente não pára! Depois da consagração de Menina de Ouro, que em 2005 ganhou 4 Oscars, inclusive os de Filme e Direção, ele voltou à tona em 2006 com dois novos trabalhos, visões distintas sobre a batalha de Iwo Jima, uma das mais sangrentas da Segunda Guerra Mundial. O primeiro filme, Flags of our Fathers, ou Bandeiras dos Nossos Pais, finalmente entrou em cartaz nos cinemas brasileiros com o equivocado título A Conquista de Honra. Esta é a versão norte-americana do episódio. O olhar dos inimigos, os japoneses, é exposto em Cartas de Iwo Jima, lançado quase simultaneamente nos Estados Unidos e muito melhor recebido pela crítica: falado todo em japonês, recebeu o Globo de Ouro de Melhor Filme em Língua Estrangeira, além de somar quatro indicações ao Oscar: Filme, Direção, Edição de Som e Roteiro Original.

Não que A Conquista da Honra seja ruim. Não. Só não é grande coisa. Além de ser mais um filme de guerra, como tantos outros já vistos anteriormente, sem nenhum destaque. As cenas de batalha são absurdamente bem filmadas, mas nada diferentes do que já foi visto em O Resgate do Soldado Ryan, lá no distante 1998. E a trama, a princípio interessante, termina por se revelar numa sucessão de clichês sentimentais e não relevantes, ali colocados justamente para tentar arrancar alguma emoção barata de um espectador em busca de atos heroicos pouco significativos, porém visualmente belos - algo, aliás, discutido no próprio enredo. A foto do cartaz do filme, bastante conhecida, é o ponto de partida de A Conquista da Honra. Lá num distante 1945, com o povo norte-americano já cansado da guerra e exausto financeiramente, ver aquela imagem de soldados esforçados em levantar a bandeira pátria numa nova conquista funcionou como um catalizador de esperanças e ânimos. Três dos envolvidos naquela imagem - os que ainda restavam vivos - são chamados de volta ao lar para servirem como 'heróis da ocasião', ou seja, para despertar a atenção do público no sentido de levantar fundos para a manutenção da guerra - que, ironicamente, iria ter seu fim poucos meses depois.

Como o batalhão militar chegou até aquele momento do hasteamento da bandeira, e toda a simplicidade por trás daquele ato até então banal, é narrado simultaneamente à jornada dos três colegas pelos Estados Unidos, já não mais soldados anônimos e sim ídolos nacionais. A posição incômoda que eles enfrentam naquela realidade inesperada e indesejada e como cada um reage é o mais pertinente de toda a trama. Encabeçado por Ryan PhillippeJesse Bradford e Adam Beach dando vida aos personagens reais John Bradley, Rene Gagnon e Ira Hayes, os três em performances corretas e seguras, Flags apresenta ainda um bom elenco de apoio, que conta com nomes como Jaime BellPaul Walker, Barry Pepper, Robert Patrick e Melanie Lynskey. O que se percebe, no entanto, é que este não é um filme de grandes atuações, e sim de um conjunto de interpretações à altura da história que pretendem contar.

Se há algum astro envolvido, este é Eastwood, responsável por conseguir fazer, praticamente ao mesmo tempo, dois filmes tão marcantes. Provavelmente Cartas para Iwo Jima seja mesmo superior, mas para isso teremos que esperar mais alguns dias. A Conquista da Honra já demonstra, porém, que a dedicação do realizador - ele não participa como ator - foi intensa, mesmo não proporcional ao resultado final. Inferior aos seus últimos trabalhos e desprovido de um olhar mais cruelmente crítico, o filme tenta uma reflexão até válida, mas vazia diante um contexto global, onde enfrentamentos são necessários, imagens são supervalorizadas e mentiras, de tão repetidas, se tornam verdades. Clint tentou fazer um alerta, e seu pecado foi ter sucumbido à própria mensagem de certa forma. Seu trabalho é lindo e impressionante, mas assim como a fotografia original, não consegue ir muito adiante de uma bela superfície, desprovida de conteúdo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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